ROBSON GOMES
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Entre as décadas de 1960 e 1980, o público brasileiro conheceu uma talentosa artista capixaba que seria eternizada como a “primeira cantora moderna da MPB”. Seu nome é Nara Leão. E para contar a história dessa personalidade tímida que revolucionou a música brasileira, rompeu preconceitos, confrontou a ditadura militar, abriu caminhos para as mulheres e, tudo isso, sem alterar o tom de sua voz aparentemente frágil, é a atriz carioca Zeze Polessa. Ela é a estrela do musical Nara, que desembarca no Recife, no Teatro Luiz Mendonça, em Boa Viagem, a partir desta quinta-feira (18) e fica em cartaz até domingo (21).
>> Zeze Polessa vive Nara Leão no espetáculo ‘Nara’
Do alto de seus 70 anos de vida, Zeze conta em entrevista à coluna Giro que este espetáculo nasceu de uma curiosidade por biografias que despertou nela durante os tempos obscuros da pandemia. “Logo que as livrarias reabriram, me deparei com a biografia Ninguém Pode Com Nara Leão (Editora Planeta, 2021), do jornalista Tom Cardoso. Me chamou a atenção o título, a foto da capa, e eu não conhecia a história dela, embora tenha a ouvido bastante em minha juventude. E o título desse livro, na verdade, li na orelha, era uma frase do [cineasta] Glauber Rocha, que a chamava assim. E me surpreendi, porque não era essa a ideia que eu tinha dela”, narra a atriz.
O fascínio por esta publicação a fez mergulhar na história de Nara Leão, fazendo-a buscar por outros materiais sobre ela, além de outras biografias como a do recifense Cássio Cavalcante, Nara Leão – A Musa dos Trópicos (Cepe, 2008). “Inclusive, gostaria muito que ele visse alguma sessão da peça”, destacou Zeze Polessa. E toda esta vasta pesquisa cativou seu amigo Miguel Falabella, que escreveu um espetáculo autoral sobre esta grande artista, que não se resume a uma cantora de Bossa Nova como muitos a rotulam – ritmo esse que ela viu nascer em seu apartamento em Copacabana, no Rio de Janeiro – mas transgressora como sempre foi, trouxe em seu primeiro disco o samba de morro.
“Miguel teve uma grande ideia para o pontapé inicial da peça que eu gostei muito, pois o espetáculo começa já com a Nara morta, mas ela volta através da magia do teatro. Ou seja, ao invés de contarmos de maneira cronológica sobre sua vida, a própria Nara vive e revive coisas que ela passou em vida. Isso traz os sentimentos não só de quando ela viveu tal situação, mas também as emoções de não poder viver mais aquilo”, explica Polessa.
Ao longo de aproximadamente 80 minutos de monólogo, a atriz performa cerca de 13 músicas (trazendo clássicos como A Banda e Diz Que Fui Por Aí) com acompanhamento e mais duas a capella. Algo que tem a desafiado bastante, mas de forma positiva. E tem uma canção especial que mexe com suas emoções no palco: “A cena em que canto Quero Que Vá Tudo Pro Inferno, de Roberto e Erasmo Carlos, que a Nara regravou, mexe muito comigo. Pois é aí que ela descobre que tem um tumor na cabeça. É um momento emocionante, onde ela começa a se despedir da vida”.
Mas Nara não é uma montagem totalmente dramática. Ele também é solar, com leves toques de comédia, tudo para abarcar a potência que foi esta grande artista da MPB. “Nara foi uma artista que valorizou a cultura brasileira, pois ela gravou de tudo! Ela cantou modinha, samba-enredo, samba de morro, jovem guarda, canção de protesto, música nordestina… E eu quero muito que as pessoas conheçam a força dessa mulher que dizia e cantava coisas muito importantes para a época em que viveu”, exalta Zeze Polessa.
SERVIÇO
Nara – com Zeze Polessa
De quinta (18) à sábado (20), às 20h; Domingo (21), às 19h, no Teatro Luiz Mendonça (Parque Dona Lindu), em Boa Viagem.
Ingressos populares a partir de R$15, à venda on-line.