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Morre Lô Borges, um dos fundadores do Clube da Esquina, aos 73 anos

ALLAN LOPES

“Até mês que vem. Dia 15 estaremos aí”. Com essa despedida, Lô Borges encerrou a entrevista concedida ao Viver, em outubro, sobre o show que faria com Zeca Baleiro, no Teatro Guararapes, baseado no álbum Céu de Giz. A frase, porém, acabou não se concretizando. Inicialmente marcada para o próximo dia 15, a apresentação havia sido adiada para abril do ano que vem em razão da hospitalização de Lô por intoxicação medicamentosa. A família do cantor e compositor mineiro confirmou a sua morte, aos 73 anos, por conta de um choque séptico que levou à falência de seus órgãos na noite de domingo.


Nascido em Belo Horizonte, em 10 de janeiro de 1952, Salomão Borges Filho cresceu em uma família numerosa e musical, cercado por dez irmãos. Porém, ele encontrou seu verdadeiro lar artístico nas rodas de violão em Santa Tereza, bairro boêmio de BH, nos anos 1960. Sob o signo dos Beatles, sua banda predileta, aqueles encontros entre amigos evoluíram para a gestação do Clube da Esquina. O movimento, que se tornaria lendário, sintetizou como nenhum outro a música mineira, com rock e toques de psicodelia.


Daquele grupo que se encontrava literalmente na esquina faziam parte, além do próprio Lô, seu irmão Márcio Borges, os letristas Fernando Brant e Ronaldo Bastos, os compositores e cantores Beto Guedes e Flávio Venturini, os instrumentistas Toninho Horta, Wagner Tiso e Novelli, além da voz já aclamada de Milton Nascimento, com quem formou uma das duplas mais influentes de sua geração. A consagração desse coletivo veio com o álbum Clube da Esquina, em 1972. Nele, Lô Borges assegurou seu lugar na história não apenas como compositor, mas também como intérprete, deixando a assinatura vocal em Um Girassol da Cor do Seu Cabelo e O Trem Azul.


Assinada pelo mineiro em colaboração com seu padrinho Milton e toda a turma, a obra foi um divisor de águas que expandiu para sempre as possibilidades da MPB. Prova disso são as homenagens anuais que a obra recebe, como o show tributo apresentado recentemente pelos artistas pernambucanos Amaro Freitas e Zé Manoel. Lô, que foi avisado pelo Viver durante a entrevista no mês passado sobre essa celebração, demonstrou grande satisfação em ver sua criação sendo fonte de inspiração depois de 53 anos. “Isso me deixa sentir que vale a pena continuar fazendo música”, disse ele.


Ao longo de cinco décadas, o músico construiu sua carreira solo, iniciada com o álbum Lô Borges, também conhecido como “Disco do Tênis” pela imagem feita pelo saudoso fotógrafo pernambucano Cafi do seu Adidas branco e gasto na capa. Lançado logo após o Clube da Esquina, foi seguido apenas em 1979 por A Via-Láctea, disco que deu ao mundo pérolas como Clube da Esquina nº 2 e Vento de Maio. Nos últimos anos, dedicou-se a uma série de colaborações, lançando sete álbuns em parceria com nomes como Samuel Rosa e o próprio Zeca Baleiro. “Trabalhar com o Lô é uma alegria juvenil, como se eu tivesse ganhado um presente”, contou Zeca ao Viver, ao falar do disco.


No entanto, o trem azul partiu cedo demais rumo à sua última estação, sem a despedida que o público pernambucano esperava. Sua admiração pelo estado, no entanto, ecoa como um consolo. “A cultura de Pernambuco está entre as mais ricas do Brasil, na minha opinião”, afirmou Lô. Assim, em vez de um adeus, fica a certeza de que sua música permanecerá entre nós.

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