ROBSON GOMES
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Marisa dos Reis Nunes nasceu em Moçambique em 1973, e teve o nome de batismo inspirado na cantora carioca Marisa Gata Mansa. Já Mariza, sem sobrenome e com ‘z’, ganhou o mundo no comecinho deste século, como resultado das experiências vividas no bairro boêmio da Mouraria, em Portugal. E o que ambas têm em comum? É que estamos falando da mesma pessoa. Aos 50 anos, esta artista portuguesa de pés africanos deságua toda a beleza do fado no palco do Teatro Guararapes, em Olinda, neste domingo (28), a partir das 20h.
Considerada, hoje, o principal nome do ritmo lusitano que é patrimônio mundial e que teve a cantora Amália Rodrigues (1920-1999) como principal propagadora, Mariza conta à coluna Giro sobre sua aproximação com a arte de cantar: “Sou apaixonada por música desde que me lembro. Desde muito nova, sempre fez parte da minha educação. E o fado chegou à minha vida quando tinha aproximadamente dez anos, quando saio de Moçambique e vou para Mouraria”.
A cantora também justifica seus “pés africanos” fincados neste gênero musical do além-mar. “A minha mãe é africana. Logo, seus ensinamentos têm algo de africano e tropical, desde a música à literatura, da gastronomia ao estilo de vida. Já meu pai, bem português do norte de Portugal, foi um homem que sempre fez questão de me passar essa enorme vontade de explorar as diferentes culturas existentes, mas sempre fazendo questão de educar segundo os costumes e tradições portuguesas. Tudo isto faz de mim uma ‘portuguesa com pés africanos’, e me caracteriza na artista que sou”, detalha.
Com pouco mais de 20 anos de carreira, Mariza canta, por exemplo, em Meu Fado Meu: “Trago um fado no meu canto / Canto a noite até ser dia”. E seguindo essa vontade de levar o ritmo europeu pelos quatro cantos do mundo, ela tem ciência do grande espaço que ocupa atualmente na música. “É efetivamente um privilégio, mas também uma grande responsabilidade transportar a bandeira cultural de um país através da sua música e idioma. O fado teve uma posição muito importante na construção da artista que sou hoje, por isso difundi-lo pelo mundo é uma forma de devolver ao fado aquilo que ele me ofereceu ao longo da vida”, ressalta.
Animada para performar em terras pernambucanas, a cantora dá detalhes sobre como será seu espetáculo: “Tenho apresentado algo especialmente preparado para os shows no Brasil. Trouxe músicas do meu último disco de tributo a Amália, a grande diva do fado, além do repertório que não poderia nunca deixar de cantar. E ainda apresento, em primeiríssima mão, canções do meu próximo álbum, chamado Amor”.
A artista também demonstra que conhece bem a música do Brasil. “Sou uma grande admiradora da MPB. Adoraria ter conhecido artistas como Elis Regina, Clara Nunes… E desejo muito dividir palco um dia junto com Chico Buarque, Ney Matogrosso, Roberto Carlos, Alcione… O mundo musical brasileiro é maravilhosamente vasto”, elogia.
Para quem ainda tem dúvidas se vale conhecer o que Mariza tem a oferecer de maneira brilhante e genuína no palco, a porta-voz da alma do povo português justifica com emoção. “No meu canto, procuro não apenas preservar a rica herança do fado, mas também trazer uma nova perspectiva e sensibilidade a esta arte tão especial. Convido todos a descobrirem as histórias que compartilho através das minhas músicas, que falam de amor, saudade, alegria, mas também sobre tristezas que tocam a todos nós. Será um prazer fazer esta jornada emocional com todos vocês”, encerra ela, com toda a serenidade e potência que só uma grande fadista vai saber entregar.
SERVIÇO
Mariza
Neste domingo (28), no Teatro Guararapes, a partir das 20h.
Ingressos a partir de R$80, à venda online e na bilheteria do local.
Uma resposta
Mariza é o melhor que temos em língua portuguesa fora do Brasil depois da grande Cesária Évora que também nos brindava com musicalidade e sofisticação. Será um show com sensibilidade e paixão.