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Filipe Catto exalta Gal Costa em show no Teatro do Parque

ROBSON GOMES robson.silva@diariodepernambuco.com.br

Graves leves, médios e encorpados, ao mesmo tempo, potente nas regiões média e aguda: assim era definido o timbre único de Gal Costa. Exalando sensualidade, a saudosa artista que nos deixou em novembro de 2022 se tornou uma intérprete única e insubstituível na música brasileira. Pouco depois desta perda tão impactante, uma cantora gaúcha lançou nas plataformas digitais o álbum de estúdio Belezas São Coisas Acesas Por Dentro, dedicado ao repertório da ilustre baiana, após ser concebido num espetáculo que era uma verdadeira epopeia do rock‘n’roll. E com um timbre raro de voz, tal qual sua musa inspiradora, as atenções do público e crítica se voltaram para a Filipe Catto, que volta com este show para a capital pernambucana neste sábado (11), no Teatro do Parque, no bairro da Boa Vista.

Após fazer o espetáculo duas vezes no Carnaval do Recife neste ano, assistir a essa turnê num ambiente fechado traz outra atmosfera, e ainda num local onde Gal se apresentava constantemente nos anos 1970. “Quando fizemos no Carnaval, estávamos cantando para uma galera que estava vivendo a festa. Tinha o calor do povo, a bebida, a loucura… Tinha os fãs, algo que fiquei muito feliz de ver. E era uma grande quantidade deles por lá, dando apoio. Foi uma experiência muito catártica, muito forte”, explica Filipe por telefone à coluna Giro. E completa: “A diferença é que, agora, vou cantar para o meu público. Para as pessoas que se mobilizaram, pagaram ingresso para estar na plateia. E o Teatro do Parque é um lugar lindíssimo! Estou superfeliz e emocionada de fazer lá. Então, o clima será de intimidade”.

Radicada em São Paulo, a cantora, compositora, instrumentista e produtora musical esmiúça do quanto bebeu da fonte da “eterna força estranha” que é Gal Costa: “Quando aceitei o convite para fazer esse show, vivia um momento de muito desbunde na minha vida. E isso também veio de encontro com a descoberta da minha transgeneridade. No momento de cantar Gal, o que me pegou foi o fato de que estava em sintonia com aquela energia. Quando canto Vaca Profana, aquela palavra, aquela força, aquela violência que vem de dentro das nossas entranhas, não era simplesmente por estar cantando Gal Costa. Estou cantando a minha história. Quando canto Tigresa, é a minha história. Por isso, acho que tem uma grande sexualidade afirmativa nesse show, numa grande convergência entre a Gal e eu. E só consegui, de fato, cantar o repertório dela, porque estava num bom lugar comigo mesma em relação à minha sexualidade”.

A geografia sentimental de Catto também tem espaço para terras pernambucanas. “Eu e Johnny Hooker, por exemplo, somos muito amigas. Temos uma vivência do underground muito profunda. Nós ouvíamos as mesmas coisas e brincamos que éramos melhores amigas muito antes de nos conhecermos, porque ela vivia no Recife o que eu estava vivendo no Sul. Existe uma proximidade muito grande entre esse lugar e Porto Alegre para mim por causa dessa cena independente… Minha terra vivia isso, enquanto Recife sempre teve uma cena roqueira e contestadora muito forte. Quando canto por aí me sinto muito acolhida, porque esta cidade é uma extensão do lugar que vivo através do underground”, detalha.

De gênero não-binária, Filipe sabe o quanto sua identidade é importante no que diz respeito à representatividade LGBTQIA+ e na conquista de um espaço na música brasileira: “Acho que ser uma pessoa não-binária é não se limitar a partir do gênero e muito menos da expectativa gerada pelos outros. Porque se fosse me enquadrar, não seria eu. Gosto muito da ideia de que a rebeldia é meu gênero e posso simplesmente me expressar do jeito que me faz bem, de maneira que me sinta poderosa e potente no mundo”.

Com a intensidade que cantar Gal Costa exige, Filipe Catto ressalta o que representa para ela estar de volta à capital pernambucana. “Acho importante dizer que estou muito feliz com esse show. Amo muito Recife e performar no Teatro do Parque será um momento muito emocionante para minha vida. Essa cidade é um ponto de inspiração para mim. Estou indo já querendo voltar e desejando ficar mais íntima dessa cena cultural que me alimenta. Além da beleza, loucura e força que esse lugar exala”, declara a cantora, sem medo e desafiando os caretas. Assim como Gal.

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