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Espetáculo celebra os 76 anos de Zé Ramalho no Teatro Luiz Mendonça

ALLAN LOPES

Zé Ramalho carrega a força poética de Bob Dylan, mas é o Sertão — em seu ritmo e sua alma — que define a singularidade de sua obra. Artista completo, ele forjou um universo sonoro no qual uma vasta miscelânea de ritmos se coloca permanentemente a serviço da palavra. Para narrar uma trajetória tão rica, nada mais justo do que a linguagem do musical O Admirável Sertão de Zé Ramalho, que retorna ao Recife exatamente nesta sexta-feira, dia em que o cantor completa 76 anos. Para comemorar a data, a sessão de estreia no Teatro Luiz Mendonça, às 20h, será gratuita. Os ingressos para o sábado (19h) e o domingo (18h) estão à venda.

Como decifrar um artista de tantas camadas? Idealizado e produzido por Eduardo Barata, o espetáculo encontrou na pluralidade a chave desse enigma. Cinco intérpretes se alternam no palco para dar voz e corpo aos muitos “Zés” que habitam seus quase 50 anos de poesia e música. A cena se multiplica em olhares, gestos e timbres, em uma polifonia que não busca imitar, mas recriar a potência de uma obra diversa. O elenco é formado por Duda Barata, Cesar Werneck, Marcello Melo, Muato, Nizaj, Tiago Herz e o recém-chegado Eli Ferreira, que faz sua estreia no Recife. A trilha sonora, executada ao vivo por Verônica Sanfoneira e pelo baterista Rostan Junior, costura as vozes e dá a cadência da noite.

A dramaturgia se desdobra em cinco atos que traçam rotas afetivas e artísticas, cada uma batizada com o nome de um marco na vida do artista: Brejo do Cruz, que apresenta suas origens; Campina Grande, sobre o despertar musical; João Pessoa, retratando o início das composições; Rio de Janeiro, que mostra a luta por espaço na cena artística; e Popstar, celebrando o auge do sucesso com clássicos como Admirável Gado Novo e Chão de Giz. O texto é de Pedro Kosovski e a direção de Marco André Nunes.


A força da narrativa vem, naturalmente, da riqueza musical que a sustenta. A obra de Zé Ramalho é um vasto ecossistema sonoro, alimentado pela literatura de cordel, pelo melhor do violão nordestino, pelo blues e pelo rock. Desse cruzamento de mundos, ele extraiu uma poesia que é capaz ao mesmo tempo de nomear verdades tão locais quanto universais. Não é de se estranhar, portanto, que seu legado seja tão abrangente e sua influência tão marcante na música nacional.


Na pacata Brejo do Cruz, próxima a Catolé do Rocha, o rádio era sua janela para o mundo. Por ele entravam, em igual medida, a musicalidade sertaneja de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro e as ousadias de Pink Floyd, Beatles e da Jovem Guarda. Assim nasceu uma miscelânea orgânica, distante de qualquer vanguardismo pretensioso. Sua genialidade residia em transformar a tradição nordestina em uma linguagem viva, capaz de absorver e dialogar com todas essas influências.


Com mais de 15 mil espectadores em 10 cidades, a montagem relança sua turnê a partir do Recife. A capital pernambucana marca a trajetória do artista, como a gravação do álbum Paêbirú ao lado de Lula Côrtes (resgatado na trilha de O Agente Secreto), mas sua escolha se deve sobretudo à energia cultural que emana. Assim como a mente inquieta de Zé, o Recife continua a ser um território fértil para ritmos,festasearte.

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Uma resposta

  1. Será uma imensa alegria assistir esse espetáculo, Zé Ramalho esteve presente na minha vida com as músicas que marcaram momentos significativos.

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