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Rita Lee é celebrada em livro, peça e gravações

Pedro Cunha
Especial para o Diario


“Estarei eu de alma presente no céu tocando minha autoharp e cantando para Deus: ‘Thank you, Lord, finally sedated’”. Ou em bom português: “Obrigada, Senhor, finalmente sedada”. Com essa frase marcante de sua autobiografia de 2016, Rita Lee anteviu sua despedida. Um ano e três meses após sua morte, sua obra, cheia de ousadia e autenticidade, continua a encantar gerações e a ressoar no imaginário coletivo. Prova disso são as muitas homenagens recentes: o lançamento de um novo livro, um musical celebrando sua carreira, uma canção inédita com clipe em parceria com Roberto de Carvalho, seu eterno companheiro, e uma nova versão de Mania de Você gravada por Anitta para a abertura da próxima novela das 21h da TV Globo. Embora Rita tenha partido, não há como duvidar que essa “alma presente” continua tocando não apenas a autoharp no céu, mas também os corações daqueles que celebram sua arte.

Na literatura, Rita Lee deixou um novo presente para seus fãs, lançado no final de julho: o livro O Mito do Mito (Globo Livros, 2024). Publicada conforme seu desejo, apenas após a sua morte, a obra evita qualquer especulação sobre coincidências com fatos ou pessoas reais. “Não quero ninguém me perguntando de meras coincidências. Escritora-mistério”, avisa Rita logo no início, deixando claro seu intuito de manter o mistério até o fim. 

Escrito em 2005 e finalizado em Rita em 2019 após longo período engavetado, o livro acompanha a cantora em consultas com um enigmático psicanalista que só atende após o pôr do sol. Com seu típico humor e irreverência, Rita explora sua relação com o papel de fã e, mais tarde, de ídolo, chegando a questionar se, de algum modo, estaria enganando seus seguidores. A obra é um prato cheio para os admiradores, encapsulando seu legado com a provocação: “Artista morto vale mais, tem uns que viram até mito”.

Trajetória nos palcos

Dez anos depois da estreia do sucesso Rita Lee Mora ao Lado, a atriz Mel Lisboa voltou a interpretar a roqueira-mor em um musical inédito, desta vez inspirado na autobiografia da cantora, com direção de Marcio Macena e Débora Dubois. Rita Lee – Uma Autobiografia Musical vai rodar os palcos do país para honrar a “padroeira da liberdade”, como ela preferia ser conhecida.

“A vida de Rita precisa ser contada e recontada. Rita não é ‘somente’ a roqueira maior. Ela compôs, cantou e popularizou o sexo do ponto de vista feminino em uma época em que isso era inimaginável. Ousou dizer o que queria e se tornou a artista mais censurada pela ditadura militar. Na época, foi presa grávida. Deu a volta por cima e conquistou uma legião de ‘ovelhas negras’. Se tornou a mulher que mais vendeu discos no país e a grande poetisa da MPB”, derrete-se Mel, em cartaz em São Paulo.

A atriz traz ao palco a trajetória da cantora, retratando os momentos marcantes de sua carreira com uma franqueza desarmante. Sem filtros, a narrativa aborda desde a infância e os primeiros passos na música, passando pelos dias com Os Mutantes e Tutti-Frutti, sua prisão em 1976 durante a ditadura, até o encontro com Roberto de Carvalho. O musical também destaca suas músicas icônicas, o ativismo em prol dos direitos dos animais e os altos e baixos de uma vida dedicada à arte e à liberdade.

Bossa nova

Do baú de memórias que Rita deixou para ser entregue ao público depois da sua partida também saiu a versão em música e clipe de Volare (clássico italiano gravado por grandes nomes internacionais) em ritmo de bossa nova, numa parceria com seu parceiro Roberto. O clipe traz cenas do refúgio do casal no interior de São Paulo, onde os dois viveram os últimos anos cercados pela natureza e pelos animais. 

Nas imagens,  Rita canta à beira da piscina, alimenta saguis e dança sozinha no quintal, enquanto Roberto aparece tocando violão na sala da casa. Em um ambiente de tranquilidade e conexão com a natureza, ele assumiu todos os instrumentos, além de cuidar dos arranjos e da produção, trazendo à tona a essência do casal em seus últimos anos juntos. “É uma maneira de matar a saudade, é uma maneira de homenageá-la e de fazer com que a obra permaneça organicamente viva”, diz Roberto. 

Os clássicos da rainha do rock também continuam fortes em novas versões. A próxima novela das 21h da TV Globo, Mania de Você, leva o nome de sua icônica canção de 1979, agora regravada por Anitta. Na atual novela das 19h, Família é Tudo, Jão e Julia Mestre cantam Jardins da Babilônia, sucesso de 1978. No ano passado, Marisa Monte revisitou Doce Vampiro em sua nova turnê, provando que a obra de Rita permanece relevante, vibrante e emocionante.

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