O Festival Internacional de Cinema de Realizadoras (Fincar) chega a sua quarta edição apresentando ao público recifense produções dirigidas por mulheres cis e trans e pessoas trans, e celebrando a diversidade no audiovisual. As exibições acontecem nesta sexta-feira (29) até domingo (1º/12), no Cinema São Luiz, que reabriu ao público no início deste mês, com entrada gratuita. Após a exibição no Recife, a programação segue para o Cine São José, em Afogados da Ingazeira, no Sertão do Pajeú.
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O festival recebeu mais de 300 títulos, entre curtas, médias e longas-metragens. As películas chegaram de várias partes do Brasil e do mundo. Para esta edição, a curadoria trouxe uma programação diversificada, com 26 filmes selecionados, sendo 20 curtas, três médias e três longas-metragens. Da produção audiovisual brasileira, a programação reúne filmes dos estados do Ceará, Maranhão, Bahia, Pernambuco, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Acre. Já entre os estrangeiros, um dos destaques é a exibição inédita em Recife do documentário A Stone’s Throw (Uma Pedra Atirada), da diretora palestina Razan AlSalah.
Nesta edição, o festival terá ainda uma mostra organizada pelo Ficine (Fórum Itinerante de Cinema Negro), no domingo. Com curadoria de Janaína Oliveira, serão exibidos dois filmes da cineasta, artista e arquivista estadunidense Camille Billops: Encontrando Christa (1991) e Suzanne, Suzanne (1982). Camille é conhecida por seus documentários com investigações cinematográficas ousadas e autobiográficas. Suas obras mergulham profundamente nas relações familiares, e sua trajetória tornou-se referência no campo das artes e do ativismo negro nos Estados Unidos. Camille faleceu em 2019, mas deixou um legado importante no cinema e na luta pela visibilidade negra.
PROGRAMAÇÃO
Para a noite de abertura, a organização selecionou o documentário O Canto das Margaridas, produzido pelo Coletivo MAPE (Mulheres no Audiovisual de Pernambuco). O filme acompanha a Marcha das Margaridas em Brasília, no ano de 2019, primeiro ano de um governo federal ultraconservador. Em meio a esse panorama político, o filme aborda as transformações que a luta feminista trouxe para a vida das militantes. Na sexta-feira, será exibido também o curta-metragem Fala Sincera, da realizadora indígena Yacewara Pataxó. A obra é uma vídeo-carta feita pela diretora para sua mãe, compartilhando a experiência em sua primeira viagem sozinha. Ambas as sessões terão debates com as realizadoras/rus, acompanhados por intérpretes de libras.
No domingo, a programação é dedicada ao público infantil, com classificação livre. A sessão terá a presença das crianças da Ocupação 8 de Março do MTST, de Boa Viagem. Serão exibidos quatro curtas-metragens, são eles: Meu nome é Maluum (Dir.: Luísa Copetti / 7’53’’ / Livre) , Tom Tom Dente de Leão (Dir.: Ariedhine Carvalho / 3′ / Livre), Aurora – A Rua que queria ser um rio (Dir.: Radhi Meron / 10′ / Livre) e Rua Dinorá (Dir.: Natália Maia e Samuel Brasileiro / 17′ / Livre).
Com a proposta de descentralizar a programação, o Fincar percorre 370 quilômetros e apresenta parte de sua mostra no Cine São José, em Afogados da Ingazeira, no Sertão do Pajeú. As exibições ocorrerão no dia 03 de dezembro, com a oportunidade de assistir aos filmes e participar dos debates que acontecerão logo após as sessões.
SELEÇÃO
A curadoria deste ano é liderada pela idealizadora e diretora do festival, Maria Cardozo, e conta com a participação de Bruna Tavares, roteirista e produtora; Ingá Maria Patriota, educadora popular, crítica cultural e pesquisadora; Luli Pinheiro, técnico de imagens, montador, fotógrafo e roteirista; e Janaína Oliveira, pesquisadora, professora e membro do Ficine.
“Este ano, a curadoria continua a buscar uma diversidade de olhares e experiências cinematográficas. Entre os filmes selecionados, destacam-se diferentes formas de se posicionar a partir da vulnerabilidade e do risco de se expor. Filmes como Fala Sincera, Lilith, Descarrego, Suzanne, Suzanne e Encontrando Christa (estes dois últimos de Camille Billops, no programa Ficine) exemplificam essa coragem de se colocar em risco para criar. Outra convergência entre os filmes é o olhar sobre práticas coletivas de viver, corpos que dançam a vida e juntos se cuidam e se fortalecem. Essas questões permeiam toda a programação deste ano”, afirma Maria Cardozo, diretora do Fincar.
Lançado em 2016, o Fincar é um festival bienal e se destaca por sua proposta única de refletir sobre o papel das mulheres e identidades de gênero dissidentes no cinema, promovendo um espaço de troca entre realizadoras, filmes e o público. O festival é uma produção da Vilarejo Filmes e tem incentivo do Funcultura, Secult-PE, Governo de Pernambuco.