Pedro Cunha
Especial para o Giro
O tempo passou, mas a voz de Péricles segue firme, ecoando como um tambor que ressoa na alma do samba. Se há um artista que carrega a grandiosidade do pagode nos ombros e, ao mesmo tempo, a leveza de quem nasceu para cantar, esse artista é ele. Sua trajetória, que começou nos anos 1980, foi marcada por resiliência, poesia e uma devoção inabalável à música. Desde os tempos do Exaltasamba, quando sua voz grave e imponente conquistou corações, até os dias de hoje, como um dos maiores intérpretes do gênero, Péricles mantém viva a chama do pagode.
>> Leia a coluna Giro desta sexta-feira, 31/01/2025
E é com essa força que ele desembarca no Recife, neste sábado (1º/2), no Parador, trazendo o Pagode do Pericão, uma roda de samba que revive clássicos de um tempo em que o pagode se solidificava como um dos maiores movimentos da música brasileira. Mais do que um show, Péricles conta ao Giro que o evento é uma viagem no tempo, um resgate afetivo que conecta diferentes gerações por meio de canções que embalaram festas, romances e encontros. “O público recifense, conhecido por sua paixão pela música e pela energia vibrante, terá a chance de reviver sucessos dos anos 1980 aos 2000, uma era dourada do pagode”, diz.
Péricles, que já levou esse projeto para diferentes cidades do Brasil, afirma que a recepção tem sido emocionante. “A riqueza musical do samba e do pagode, ao longo dos anos, é de um valor ímpar. O ‘Pagode do Pericão’ sempre traz releituras especiais e, desta vez, decidimos focar nesse período tão importante. O público jovem, muitas vezes, não conhece muitos dos sucessos daquela época, e a gente não pode deixar canções tão lindas caírem no esquecimento”, reflete o cantor.
Reencontro com a nostalgia
Para Péricles, revisitar essas músicas não é apenas um exercício de nostalgia, mas uma forma de manter viva a essência do pagode tradicional. “As inovações são necessárias, fazem parte da vida e de qualquer profissão. Mas o samba e o pagode nunca perderam sua essência, ela sempre estará lá. A música tem esse poder de nos levar de volta a momentos especiais. Isso traz conforto, aconchego e boas sensações”, conta.
A escolha de resgatar os clássicos tem uma razão. Durante a pandemia, o cantor percebeu que o público buscava referências do passado, momentos que remetiam a uma época mais leve. “A onda de nostalgia foi mundial. Com o lockdown, as pessoas estavam mais em casa, assistindo às lives, e nós tivemos que inovar. Esse período permitiu que a gente revisitasse o passado e conhecesse também novos compositores e artistas. A música sempre teve esse poder de unir as pessoas, e a memória afetiva fortalece essa conexão”, analisa Péricles.
Fusão de estilos
Com quase quatro décadas de carreira e 55 anos de idade, Péricles é uma das maiores referências do pagode e se orgulha de ver novas gerações abraçando o gênero. Ele cita com entusiasmo artistas de outros segmentos que têm se aventurado no samba e no pagode, como Ludmilla, Gloria Groove e Léo Santana. “Eu acho incrível. Projetos como esses valorizam o samba e o pagode e deixam nosso segmento ainda mais forte. A música tem essa missão de quebrar barreiras e unir diferentes públicos. Como artistas, ganhamos muito com isso”, diz.
O pagode de hoje, segundo Péricles, é um reflexo de sua própria história: evoluiu, se transformou, mas nunca perdeu sua alma. “O cenário atual do samba e do pagode é de renovação e sucesso. Os grandes nomes continuam produzindo, e muita gente nova tem surgido com um trabalho maravilhoso. O samba é respeitado dentro e fora do Brasil, e a tendência é crescer ainda mais”, avalia o cantor.
Mesmo com tantas conquistas, Péricles segue em movimento. Criar, reinventar e emocionar são verbos que fazem parte de sua trajetória. “Se Deus permitir, eu ainda tenho muito a contribuir com a música. Me sinto realizado, mas amo o que faço e não gosto de me acomodar. A construção da carreira de um artista é feita de trabalho, esforço e resiliência. Estou muito feliz com tudo que tem acontecido e ansioso para conquistar ainda mais”, afirma.
Encontro que promete emocionar
O Recife, com sua cena musical efervescente, sempre recebeu o samba com entusiasmo. E agora, com o Pagode do Pericão, a cidade se prepara para um reencontro especial com um de seus maiores intérpretes. No próximo sábado, Péricles convida o público para celebrar a atemporalidade do pagode, em um show que promete ser um abraço coletivo, repleto de emoção, energia e, claro, muito samba.
“Estou muito feliz com tudo que essa turnê tem me proporcionado. A troca de energia com o público é o que me motiva a seguir em frente. Cada show é um encontro, um momento de celebração. No Pagode do Pericão, a gente canta junto, revive histórias e, acima de tudo, celebra a música”, conclui Péricles, com a certeza de que o pagode nunca morre – ele apenas se reinventa.