Nascida e criada em São Paulo, Mariana Aydar carrega o forró na voz sem ter o Nordeste no sangue. Sua conexão com o gênero vai muito além da herança genética, afinal é um vínculo que foi abençoado por ninguém menos que Luiz Gonzaga. O Rei do Baião lhe presenteou, aos 6 anos, com uma boneca que tinha o tamanho dela. Mariana transforma o gesto em arte, memória e celebração na música Xote Destino, já disponível nas plataformas digitais para embalar as festas juninas e tocar corações por onde for ouvida.
Na época, Gonzagão era cliente da empresária e produtora Bia Aydar, mãe da artista, que ajudou a tornar possível o encontro dos dois em um shopping. “Aquela ocasião me marcou profundamente”, relembra a cantora, em conversa exclusiva com o Viver. Ela ainda o veria outras vezes, sempre que a família o recebia em casa. “Não tivemos uma convivência longa. Mesmo assim, foi o suficiente para despertar algo muito forte em mim”, conta.
Esse “algo” não ficou restrito às memórias. Cresceu, ganhou forma e se tornou a própria identidade artística da paulistana: o forró, um presente ainda maior do que a boneca que recebeu na infância. “O que Luiz Gonzaga mais desejava era ver o gênero pé de serra se espalhar pelo mundo, alcançando todas as pessoas”, afirma. E hoje, Mariana carrega essa missão com maestria. Um dos nomes prolíficos da cena contemporânea, ela venceu o Prêmio da Música Brasileira na categoria Raízes – Lançamento pelo disco?Mariana e Mestrinho, criado em parceria com o músico Mestrinho.
Para dar voz às suas lembranças em Xote Destino, ela se uniu ao cantor e compositor pernambucano Barro e à artista Indy na criação das letras. “Estávamos trabalhando no projeto de um show que, infelizmente, não chegou a acontecer. Mas dessa imersão nasceram descobertas muito profundas”, comenta Mariana. “Uma delas foi justamente esse processo em que ele ouviu as minhas histórias e disse: ‘Sou seu amigo, já sou seu parceiro de tantas músicas, já produzi coisas suas, e não fazia ideia, por exemplo, dessa sua história com o Luiz Gonzaga’”, revela.
Em um cenário dominado por homens, ela busca inspiração nas mulheres que desbravaram o forró antes dela, a exemplo da saudosa Marinês, da grande Anastácia e, sobretudo, Elba Ramalho, amiga de longa data. “Uma vez, Elba me disse uma coisa muito bonita, que eu nunca mais esqueci: ‘o forró me dá energia e eu energizo o forró’. E isso ficou muito forte pra mim, porque eu me sinto exatamente assim”, ressalta. “É uma dose extra de alegria na minha vida. É um jeito de me reconectar com com toda a minha juventude, que sempre esteve muito ligada ao forró”.
Nesta quinta-feira, Mariana volta à capital pernambucana para se apresentar ao lado da Orquestra Sinfônica do Recife, sob aregência de Lanfranco Marcelletti, na abertura da programação junina do Sítio Trindade. “Sempre que eu chego no Recife, me deparo com essa força das tradições e percebo o meu lugar diante dela. Ao mesmo tempo, vou absorvendo um pouco dessa potência para mim. Porque, afinal, é daqui que saíram, e saem, tantos e tantos mestres”. E se for verdade que a música alcança o céu, é possível que Gonzaga, do seu trono nas estrelas, esteja ouvindo. E sorrindo.