Com apenas 12 anos de idade, José Paes de Lira Filho (Lirinha) chamou atenção ao declamar poesias no Teatro Santa Isabel a convite de Ivanildo Villanova e Ésio Rafael, ocasião do 4º Congresso de Cantadores do Recife registrada em matéria do Diario de Pernambuco. Tendo esse marco como início oficial de sua carreira, o poeta natural de Arcoverde e também músico versátil decidiu preparar e trazer ao Recife o show comemorativo de seus 35 anos de atividade artística, apresentação que ocorre nesta sexta-feira (20), no Teatro do Parque, às 20 horas.
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José Paes de Lira canta Lirinha é tanto uma celebração das possibilidades criativas da poesia do compositor, que vem investigando paisagens sonoras envoltas no ato declamatório cada vez mais a fundo, quanto uma forma de retornar ao manancial artístico pernambucano e recifense responsável por boa parte da sua formação musical, que passa pelos repentes e seu grande significado para o imaginário cultural nordestino e também pelo rastro inescapável do manguebeat e suas transformações.
Redescobrindo canções fundamentais na sua obra, Lirinha reflete em seu trabalho atual a maneira como sua terra consolidou uma estrutura de movimento artístico então insipiente na época em que ele começou sua jornada. “Arcoverde sempre teve uma força cultural e uma movimentação, mas hoje é um polo de música, com grupos e forte atuação cultural com bem mais apoio. E o Recife vem se estruturando ainda mais o peso dessa sua efervescência histórica no calendário, se renovando sempre e pensando novas formas de música e poesia”, destacou o artista em entrevista ao Diario.
“Meu primeiro impulso para esse show comemorativo foi a reunião de um repertório que não corresponde exatamente a um único álbum, o que é muito importante para que eu possa passar por outros projetos, do Cordel do Fogo Encantado até o espetáculo de recital chamado Poesia Eletrônica, onde eu retomo a declamação como a protagonista. Pensei em fazer algo que reunisse tudo isso e em que eu dividisse com o público todas essas fases e abordagens”, explicou.
“Acho que o meu trabalho coloca essa poesia no lugar de atuação contemporânea. Estou muito envolvido e encantado com a palavra musical e venho desenvolvendo um ritmo e uma poesia com uma linguagem minha, estabelecendo essa relação entre sons pré-gravado e aparelhos de sampler, o que é uma estrutura que vai além do Brasil. É um lugar que eu busco me aprofundar: essa zona de fronteira entre poesia e música, já que sinto que não há uma discografia tão forte nesse lugar como poderia. Da palavra como célula sonora”, conclui Lirinha.