ROBSON GOMES
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Depois do estrondoso sucesso da sessão do aclamado filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, no XV Janela Internacional de Cinema do Recife – que vai até a próxima sexta (8) –, outra que promete ser bastante concorrida na programação do festival será a do longa Malu, de Pedro Freire, estrelado por nomes como Yara de Novaes e Carol Duarte. O filme será exibido nesta quinta-feira (7), às 21h30, no Cinema São Luiz, e contará com a presença do diretor e das atrizes para um debate com o público logo em seguida.
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Ambientada nos anos 1990, a produção conta a história da atriz Malu Rocha, que vem a ser mãe do diretor da obra, já falecida. No entanto, o teor de homenagem não se converte numa biografia, pois o filme começa quando a protagonista (interpretada por Yara) já está na meia-idade, vivendo com a mãe idosa em uma comunidade carioca e frustrada por sua carreira como atriz de teatro não ter vingado.
Inspirado pelas próprias vivências de Pedro Freire ao lado de sua irmã e sua mãe, Malu aborda de maneira sensível e poderosa temas como maternidade, saúde mental e complexas relações familiares. Em meio ao amor e às tensões, vemos o peso dos embates verbais e físicos, tudo isso em um contexto feminino que desafia o papel e as expectativas da mulher em um ambiente marcado por valores patriarcais e arcaicos.
Tudo isso mexeu com os sentimentos de Pedro enquanto filho e realizador desta obra: “Eu chorava muito filmando. Chorei escrevendo o roteiro. Chorei bastante editando o filme. Eu só parei de chorar na correção de cor. Ele é muito pessoal, é a história da minha mãe. São coisas que vi acontecendo, que sofri muito vendo acontecer. Uma das cenas de briga foi a mais forte, porque foi uma briga que eu tive, de fato, com ela. Não teve tanta criatividade no roteiro. Teve mais criatividade de memória, de trazer a minha memória para o papel”.
Yara de Novaes, que faz seu primeiro papel como protagonista de cinema nesta obra, fala da identificação que teve com a personagem-título. “Malu é grande em todos os sentidos. É uma mulher com a qual eu me identifico e amei fazer, porque ela é uma atriz de teatro. Isso me comove porque eu também sou uma atriz brasileira. Então, muito mais do que ser a protagonista, o que me comove são todas essas coisas. Tudo o que essa protagonista traz”, explica ela, que na televisão participou da série Shippados (2019) e a novela Um Lugar ao Sol (2022), ambas da Globo, e estrelou nos palcos o espetáculo Justa, do pernambucano Newton Moreno.
Revelada na novela A Força do Querer (2017), da TV Globo, ao viver o homem trans Ivan, Carol Duarte, que interpreta Joana no longa, destaca o recorte intimista da vida de uma família que o longa traz, e desperta várias questões pessoais. “Malu fala de geração, de pré-ditadura, ditadura e de pós-ditadura. É impossível ignorar o passado, é a partir dele que podemos escolher o futuro. Temos três gerações de mulheres que viveram em contextos diversos, que pensam diferente e tentam coexistir na complexidade das suas discrepâncias”, ressalta a atriz, que contracena no filme com a veterana (e premiadíssima) Juliana Carneiro da Cunha.