Multiplicidade e diversidade artística marcam edição histórica do Janeiro de Grandes Espetáculos e o produtor do evento, Paulo de Castro, avalia desempenho do evento ao Viver
Chegando a uma trajetória de 30 anos que se manteve sem pausas mesmo com os desafios enfrentados nas últimas edições, o Janeiro de Grandes Espetáculos: Festival Internacional de Teatro, Dança, Circo e Música de Pernambuco priorizou o poder da arte produzida no estado e conseguiu consolidar um público fidelizado há décadas e a cada ano mais consistente. Trazendo também grandes artistas do eixo Rio-São Paulo, do Rio Grande do Sul e, claro, de outros estados do Nordeste, como Paraíba e Bahia, o festival, que começou no dia 9 e chegou ao fim nesta semana, emplacou 90 espetáculos e mais de 100 sessões (locais, nacionais e internacionais), diversificadas entre adultas, infantis, trabalhos circenses e leituras dramatizadas.
Montagens pernambucanas adultas como O Peru do Cão Coxo, Tudo sobre o Amor, A Última Volta do Ponteiro e Aldeias – Experimentos do Corpo Ancestral, além de espetáculos convidados de fora como o baiano João Guisande e seu solo Retratos imorais; o inédito gaúcho Novos Velhos Tempos, do Coletivo 50+, e Fabiana Karla com sua comédia musical ‘Nessa mesa de bar’ foram alguns dos destaques da primeira leva de projetos que mobilizaram a plateia do Recife. Peças infantis, como As Aventuras de Simba, do L. A. Espaço Artístico e Cultural, O Pequeno Príncipe, Cênicas Cia de Repertório, e Os Títeres de Porrete: Tragicomédia de Dom Cristóvão e Sinhá Rosinha, do Grupo Tiritando).
O humor e a interatividade das recifenses Dois em Cena e Cia. Devir marcaram presença com, respectivamente, os espetáculos Enquanto Godot Não Vem e Experimento VI: Isso (Não) é um Número de Circo?, enquanto o público LGBTQIA foi representado por montagens como Eternamente Bibi, da paraibana Cara Dupla Coletivo Teatro, O Boteco da Dona, da Articulação e Movimento para Travestis e Transexuais de Pernambuco, e Ópera, do Coletivo Angu de Teatro.
Ao Viver, o produtor do Janeiro de Grandes Espetáculos e presidente da Associação dos Produtores de Artes Cênicas de Pernambuco (Apacepe), Paulo de Castro, fez um balanço da 30ª edição destacando que foi uma das mais marcantes e movimentadas de sua história. “Para nós, é impressionante como conseguimos manter a atenção do público mesmo numa época em que o foco inteiro da cidade está voltado para o carnaval. Ultrapassamos a marca dos 24 mil espectadores dias antes do festival acabar, então certamente conseguiremos atingir a meta inicial ao final (entre 27 e 30)”, enalteceu.
“Está sendo muito importante essa diversificação da programação, que trouxe esse ano um destaque especial para as leituras dramáticas e para o circo. O trabalho de palhaços está crescendo muito e contamos com a grande participação de palhaças mulheres também. Estamos no caminho certo para que possamos, num futuro próximo, aumentar ainda mais a quantidade de espetáculos, que já é bastante expressiva, e praticamente todos plenamente realizados”, reafirmou o produtor. “Tem sido essencial nesta edição as oficinas, para que a classe artística tenha cada vez mais consciência do seu lugar e sua importância nessa cadeia produtiva. A transformação mais significativa ao longo desses 28 anos à frente da produção do festival tem sido justamente essa união crescente da classe e a forma como as diferentes expressões artísticas, da música, dança ao teatro, estão a cada ano mais próximas. E isso é muito bonito de se ver”.
Paulo falou ainda sobre o cenário para o ano de 2024 que o Janeiro anuncia e as suas perspectivas foram otimistas. “O mês de janeiro equivale aos outros 11 meses do ano de teatro, dança e música, então a população já sabe que se trata de um projeto gigantesco. E o clima que estamos vendo no Brasil, desde o ano passado, é outro completamente diferente. Sentimos uma abertura maior para investimento em cultura e para a necessidade de acolher as pessoas nesse processo de democratização”, completou.