ROBSON GOMES
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O quanto você se considera uma pessoa evoluída no que diz respeito à raça humana? O quanto somos mais felizes – e temos contribuído pelo bem coletivo – em relação aos nossos ancestrais de milhares de anos atrás? Talvez você não tenha as respostas, mas pode começar a refletir sobre isso e outras questões pertinentes à nossa sociedade atual através da dramaturgia. Essa é a proposta inicial de Ficções, um espetáculo baseado no livro best-seller Sapiens – Uma Breve História da Humanidade, do israelense Yuval Noah Harari, publicado em 2014, que traz a grande atriz paulista Vera Holtz como protagonista deste monólogo, que fica em cartaz a partir da próxima terça (10) até quinta (12), no Teatro do Parque.
Embora a premissa pareça um tanto inalcançável e de difícil compreensão, a montagem escrita e dirigida por Rodrigo Portella tem o poder de se aproximar do público graças ao talento de Vera em cena. Em entrevista exclusiva à coluna Giro, a veterana conta como conheceu o espetáculo, no ano de 2022: “Eu acredito que as coisas têm vida própria. Eu já amava esse livro e dei de presente para muitas pessoas, pois é uma obra que fala de um sistema de crença, de narrativas… Quando me chamaram para fazer esta peça, me propuseram uma narrativa da história da humanidade por uma mulher. Foi aí que aceitei”.
>> Leia a coluna Giro desta sexta-feira, 06/09/2024
Ao longo do espetáculo, a atriz de 72 anos nos convida não para ver uma transposição do livro para os palcos do teatro, e sim, um diálogo aberto sobre esta obra diante do público. Algo que é desafiador para a artista, que divide a cena com o músico Federico Puppi, responsável por interagir com Vera e executar a trilha sonora original do espetáculo.
“Fisicamente falando, memorizar uma obra filosófica, científica, que não é uma obra de dramaturgia clássica, em que você trabalha com diálogos mais ligados à emoção, e sim com diálogos ligados ao conhecimento, exige muito. Falar sobre tudo isso, e ainda dialogar com a música e o público, é algo muito intenso. Mas é único em cada sessão”, destaca a protagonista, que completa: “Federico e eu estamos ali presentes, inteiros. Mas, como dizem, o ator é um atleta, e fazer um monólogo – ou ‘duólogo’, como brinco – é ser mais atleta ainda. E é um prazer se confrontar com um texto desse todo dia”.
Em Ficções, Vera é múltipla. Ora se desdobra em personagens da obra literária e em outras criadas por Rodrigo Portella – como um asno, por exemplo –, canta, improvisa, “conversa” com o autor da obra original, brinca e instiga a plateia. Ora encarna a narradora e, às vezes, é a própria atriz falando. “Quando o Rodrigo traz esses personagens para provocar o público, ele humaniza o discurso. Mas mesmo facilitando a compreensão, ele não dá respostas. Este espetáculo é uma obra de perguntas. Ele levanta dúvidas, depois você pensa. Em algum momento, a obra te contagia e provoca a reflexão”, garante a artista.
Testemunhar Vera Holtz em ação nos palcos do teatro é mais que um programa cultural de fim de noite, é uma experiência. Com quase 50 anos de estrada, com trabalhos marcantes nos tablados, telinhas e telonas, ela sabe do valor inestimável que seu talento contribuiu para a dramaturgia brasileira. “Eu tenho muita gratidão por tudo. Quando terminou a pandemia, eu pensei em me aposentar. Estava com a mão na maçaneta do paraíso quando veio o convite para Ficções e me trouxe de volta à ativa. Mas tive uma carreira maravilhosa! Fiz televisão muito tempo, fiz teatro, trabalhei com grandes diretores da minha geração, mas sempre atenta aos novos talentos. No fim, acho que a Vera Lúcia, que nasceu lá no Tatuí, no interior de São Paulo, cuidou bem da Vera Holtz. E a Vera Holtz cuidou bem da Vera Lúcia até aqui”, resume a icônica estrela.
SERVIÇO
Ficções – com Vera Holtz
De terça (10) a quinta (12), às 20h, no Teatro do Parque.
Ingressos a partir de R$21 (meia), à venda on-line.
