ANDRÉ GUERRA
Fãs de um dos mais famosos personagens das histórias em quadrinhos provavelmente vão respirar aliviados nesta quinta-feira, com a estreia de Superman, em cartaz nos cinemas do Recife. Além do peso da responsabilidade de corresponder às expectativas do legado do personagem, o filme dirigido por James Gunn (da trilogia Guardiões da Galáxia) precisa dar início a uma nova fase do Universo da DC nos cinemas, que passou por toda uma reformulação nos últimos anos e dependia desse projeto para alçar voo.
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O ator David Corenswet (descoberto na minissérie Hollywood, de Ryan Murphy) interpreta Clark Kent, nome humano do alienígena kryptoniano Kal-El, criado em Smallville, no Kansas, após ser enviado pelos pais ainda pequeno para a Terra. Este novo filme, porém, pula toda a já conhecida apresentação do personagem e do contexto de sua chegada ao planeta, resumindo o principal nos letreiros. A relação com Lois Lane (Rachel Brosnahan, da série Maravilhosa Sra. Maisel), a presença de outros meta-humanos no mundo e as dúvidas geradas pela presença de um herói superpoderoso já são, aqui, questões postas desde o início.
James Gunn, hoje o responsável pelos desdobramentos do Universo DC, tem consciência do esgotamento do cinema de super-heróis e, por isso, faz o possível para que Superman tenha ao mesmo tempo um senso de ingenuidade na fantasia e um dinamismo que camufle ou ignore várias burocracias do gênero. Conhecido por movimentos de câmera ágeis que mantém o máximo de informações em foco e por usar os efeitos com um exagero quase caricatural, o cineasta enche o filme de cores, sem temer a completa fuga do realismo.
O elenco todo responde ao exagero do tom, com destaque para o Lex Luthor surtado de Nicholas Hoult e para o cachorro Krypto, que rouba a cena. O pino que mantém essa avalanche de estímulos no lugar, porém, é David Corenswet. Sem tentar emular a presença canônica de Christopher Reeve, que encarnou o personagem no clássico homônimo de 1978, o ator equilibra com perfeição o semblante de galã contemporâneo e a vulnerabilidade que a direção propõe.
A atuação dele responde pela força do filme, já que a tarefa de unir a atmosfera ingênua apropriada ao personagem com o clima de urgência e agressividade que tomou conta do mundo é, por si só, uma façanha. E, mesmo espelhando os conflitos e temores políticos do momento, o roteiro preza por soluções cartunescas, às vezes propositalmente bobas.
Nem sempre James Gunn evita que a estrutura padronizada dos super-heróis provoque inchaços na narrativa, mas é raro ver no gênero um filme com essa quantidade de expectativas em torno ter mais cara de um projeto cheio ideias e imperfeições do que de produto sob encomenda. Superman, aqui, voa sem limites.