ANDRÉ GUERRA
Chegando hoje aos cinemas do Recife após lançamento elogiado na Mostra de Tiradentes, em janeiro, o terror Prédio Vazio, de Rodrigo Aragão (de O Cemitério das Almas Perdidas) conta a história da jovem Luna (Lorena Corrêa), que tem um pressentimento de que algo ruim acontecerá com sua mãe e resolve ir até Guarapari, no litoral do Espírito Santo, para encontrá-la. Sendo último dia de carnaval e com a alta temporada indo embora, toda a área parece quase abandonada, incluindo o edifício em que ela e seu namorado ( o pernambucano Caio Richards Macedo) se aventuram na empreitada. Nesse lugar, porém, a presença de uma mulher de olhar ameaçador (Gilda Nomacce) se transforma no centro do mistério.
Conhecido como uma das vozes mais importantes do cinema de horror brasileiro desde que lançou Mangue Negro, em 2008, o diretor capichaba vem gerando expectativas altas dos fãs do gênero nos principais festivais e Prédio Vazio resgata todos os principais apelos do seu cinema, sobretudo no que diz respeito ao uso irrestrito e assumido de tropos consagrados (sustos, sangue, cenários com aspecto abandonado, gritos, fantasmas etc).
O trabalho de Aragão é menos focado na reinvenção e mais voltado para o básico feito com o máximo de convicção, adaptando os clichês do horror ao contexto brasileira, às vezes com referências históricas, como no caso do Cemitério das Almas Perdidas, e, no caso aqui, referências urbanas. A locação em Guarapari é bastante evocativa do clima de “trem-fantasma” que o diretor imprime a Prédio Vazio, seu primeiro filme realmente urbano.
Muitas cenas que envolvem efeitos especiais são apropriadamente absurdas, abraçando um estilo B de terror raiz que remete desde Suspiria (1977) até o recente A Morte do Demônio: A Ascensão. Há inúmeras outras referências espalhadas pela obra, que tem ainda a vantagem de uma duração curta e objetiva, evitando que os recursos narrativos simples caiam na repetição.
Gilda Nomacce, atriz conhecida por célebres participações em filmes de terror, como Trabalhar Cansa e As Boas Maneiras, ganha uma excelente oportunidade para explorar latitudes surpreendentes do gênero e representa muito bem toda a energia ao mesmo tempo despretensiosa/divertida e convicta/competente do projeto. Agora finalmente disponível para uma plateia maior, Prédio Vazio tem todo o potencial para conquistar uma fanbase e levar mais pessoas ao cinema de gênero brasileiro.