ANDRÉ GUERRA
É do Brasil mais uma vez. E do cinema pernambucano. Confirmando as expectativas que já circulavam na imprensa nacional e internacional, O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho, fará sua estreia mundial na mostra competitiva do 78º Festival de Cannes (que acontece de 13 a 24 de maio), concorrendo à Palma de Ouro. O filme, produzido por Emilie Lesclaux, é o quinto trabalho do diretor recifense a participar do evento, 20 anos após o curta Vinil Verde ser exibido na Quinzena dos Realizadores.
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Com Wagner Moura no papel central de um elenco estrelado ainda por Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone, Hermila Guedes, Tânia Medeiros, Isabél Zuaa, Thomás Aquino, Alice Carvalho, Luciano Chirolli e Udo Kier, entre muitos outros nomes, O Agente Secreto é descrito como um thriller ambientado no Recife de 1977, durante a ditadura militar, quando um homem com um misterioso passado retorna à cidade em busca de tranquilidade. Ele acaba descobrindo que ela não é o refúgio de paz que estava buscando.
Antes de se tornar uma figura célebre de Cannes, Kleber cobriu o festival como jornalista e crítico de cinema, chegando a reunir várias de suas entrevistas feitas ao longo dos anos em seu primeiro longa, o documentário Crítico (2008). Depois de sua estreia em longa de ficção com O Som ao Redor (2012), seus filmes Aquarius (2016) e Bacurau (2019) também foram exibidos na competição principal da cidade francesa, sendo o segundo celebrado com o Prêmio do Júri. Em 2023, foi a vez de Retratos Fantasmas ganhar projeção especial, fora de competição.
O Agente Secreto representa ainda a concretização de um desejo de longa data que Wagner e Kleber tinham de trabalhar juntos. Já consolidado em sua carreira hollywoodiana, com sucessos recentes como o filme Guerra Civil e a série Dope Thief, o astro baiano teve a oportunidade de retornar ao Recife 25 anos depois de estrear a peça A Máquina, de João Falcão, que o revelou para todo o Brasil. Foi em Cannes, inclusive, que Kleber, então trabalhando na cobertura do festival, e Wagner se cruzaram pela primeira vez, quando o baiano apresentou Cidade Baixa (2003).
Nesta edição, O Agente Secreto é o único longa latino-americano na disputa pela Palma de Ouro e concorre com outros 18 títulos, como Alpha, de Julia Ducournau (vencedora do prêmio máximo em 2021, por Titane), The Phoenician Scheme, de Wes Anderson, Eddington, de Ari Aster, Nouvelle Vague, de Richard Linklater, e Sentimental Value, de Joaquim Trier. Fora de competição, o festival vai exibir ainda Missão Impossível: O Acerto Final, um dos mais aguardados do ano, com a presença do astro e produtor Tom Cruise.
Depois de Veneza, com Ainda Estou Aqui, e Berlim, com O Último Azul, o Brasil chega a Cannes mais uma vez para mostrar sua expressividade. E com cores e tons de um Recife que, desde as ruas tomadas por carros antigos nas filmagens do ano passado, aguarda ansiosamente para se ver como cenário de cinema.