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Com atuação intensa, José de Abreu apresenta peça ‘A Baleia’ no Recife

Por Allan Lopes

Sob uma montanha de próteses, José de Abreu suporta mais de 400 quilos para interpretar Charlie, na adaptação teatral de A Baleia. Em cartaz no Teatro Luiz Mendonça, no Dona Lindu, a partir desta quinta até domingo, o espetáculo impõe ao ator não apenas a sobrecarga física, mas o peso invisível de um homem devastado por dores que não se medem em quilos. Um desafio que testa os limites até mesmo de um veterano consagrado da dramaturgia nacional.

Escrita por Samuel D. Hunter, a trama gira em torno de Charlie, um professor de inglês gay, com obesidade severa, que vive isolado e tenta reconstruir a relação com a filha adolescente. A peça ganhou notoriedade mundial com a adaptação para o cinema dirigida por Darren Aronofsky, em 2022, vencedora de três Oscars, entre eles o de melhor ator para Brendan Fraser e o de melhor maquiagem.

Mas, para José de Abreu, o Charlie do teatro carrega uma densidade ainda maior. “É muito mais humano do que o do cinema”, crava, em conversa exclusiva com o Viver. Segundo o ator, a versão do diretor Luís Artur Nunes não suaviza os conflitos como a do filme e apresenta relações mais honestas e sensíveis. “Ele é um sujeito que vem de uma cidade pequena, onde tudo é mais contido, inclusive os afetos. Isso dá muita cor ao personagem”, explica. No palco, ele divide essa carga dramática com Luisa Thiré, Gabriela Freire e Eduardo Speroni.

Ator José de Abreu no espetáculo A Baleia (Foto: Nil Canine/Divulgação)

Mesmo coberto por  uma barriga de látex, camadas de neoprene e até oito bolsas de gelo para driblar o calor, foi a dor de Charlie que mais pesou sobre Abreu. A profundidade do sofrimento e da solidão do personagem tornou este o papel mais desafiador de sua carreira de 58 anos, que inclui títulos como As Três Marias (1980), Ti Ti Ti (1985) e Avenida Brasil (2012). “Já estou bem acostumado, mas é um desgaste psicológico muito grande”, revela. 

De volta ao Recife após 25 anos, desde que participou da reinauguração do Teatro do Parque em 2000 com A Mulher Sem Pecado, de Nelson Rodrigues, José de Abreu promete deixar esta nova passagem marcada na memória dos pernambucanos. “É impossível sair do teatro indiferente. Você vai jantar depois e vai ficar comentando, repensando o que acabou de assistir. É isso que o bom teatro faz: te tira do lugar, te faz refletir”, afirma ele, que nos anos 1970, veio à capital pernambucana e se refugiou da ditadura no bairro do Janga, onde viveu entre coqueirais com um grupo hippie.

A humanidade de Charlie transparece no personagem do ator em Guerreiros do Sol, coronel Elói Bandeira, um fazendeiro poderoso do sertão pernambucano, que se rende ao amor por Rosa (Isadora Cruz). ”Foram poucos capítulos para mostrar essa evolução, mas ficou claro, especialmente no momento da morte dele, como a paixão era recíproca”, avalia. José de Abreu retorna ao Recife para mostrar que, seja um coronel ou um professor obeso, o amor sempre chega. Mas nem sempre a tempo.

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