Após os contratempos causados pelas chuvas no ano passado, a expectativa para o 21º Baile do Menino Deus, que será realizado nesta segunda (23) e vai até quarta-feira (25), sempre às 20h, na Praça do Marco Zero, é de que o céu seja mais generoso desta vez. Afinal, 2024 foi um ano especial para o espetáculo, agora reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Recife. A Rainha da Ciranda, Lia de Itamaracá, e os maestros Spok e Forró se juntam a uma equipe de talentos para apresentar, no palco, uma versão abrasileirada da história mais conhecida do mundo.
Em 2023, a chuva forçou o cancelamento da primeira noite de apresentação minutos antes do início, mesmo com o palco montado e músicos e atores prontos para entrar em cena. Na segunda noite, apesar da insistência da chuva, o desfecho foi diferente: o Baile foi retomado após uma pausa de 15 minutos. “Sim, enfrentamos problemas no primeiro dia, mas seguimos nos outros dias iluminados por um público imenso e vibrante. Este ano, a expectativa é de que nenhuma intempérie dê as caras. Não caiu uma gota d’água por aqui em outubro e novembro, nem mesmo para refrescar a testa. Esperamos que o céu seja generoso conosco”, projeta o escritor Ronaldo Correia de Brito, diretor e coautor da peça ao lado de Assis Lima.
Distante das manifestações desconectadas da realidade brasileira, esta celebração natalina proporciona um encontro mágico entre pastores, cantigas e danças tradicionais com passos de frevo, maracatu e cavalo marinho. Em constante renovação, a temporada de 2024 quebra uma tradição ao conceder fala ao personagem José, interpretado pelo sanfoneiro paraibano Lucas Dan, que declama um poema adaptado do pernambucano Manuel Bandeira. “Essa escolha traz um novo perfil ao personagem, renovando sua abordagem e contribuindo para a riqueza artística do espetáculo”, comenta Ronaldo. O músico contracena com Laís Senna, a primeira atriz negra a interpretar Maria no auto natalino, que estreou na edição passada.
A peça, atemporal em sua essência, gira em torno da questão existencial que guia toda a trama. Há 20 anos, Arilson Lopes e Sóstenes Vidal, acompanhados por um coro infantil, interpretam dois brincantes, os Mateus, numa busca incansável pelo Menino Jesus. Segundo Sóstenes, o sucesso da parceria com Arilson vem do ajuste feito por Ronaldo Correia de Brito para os dois brincantes. “A energia entre a gente foi imediata, uma química que deu certo, e o Ronaldo soube separar bem as características de cada personagem – mais lírico, mais jocoso. Com isso, a parceria se encaixou perfeitamente”, destaca.
Grande atração deste ano, Lia de Itamaracá já havia participado de um especial para TV em 2021, dirigido por Tuca Siqueira, que substituiu a montagem do Baile por conta da pandemia de Covid-19. Agora, um antigo desejo de Ronaldo será realizado, com Lia se apresentando ao vivo com Lucas dos Prazeres. “Essa parceria é uma forma de unir gerações: um artista jovem com uma diva consagrada. Ainda que Lucas também já seja um nome de destaque, com experiência em grandes espetáculos, como o musical Jacksons do Pandeiro”, aponta Ronaldo.
Aos 80 anos, Lia se sente uma iniciante com o novo desafio. “A expectativa é dez, a emoção é mil. O coração está cheio de alegria. Vou chegar no palco e as pessoas vão dizer: ‘É a Lia do Baile do Menino Deus’. Tem muita coisa boa, bonita, para ver, ouvir, decorar, botar na cabeça e cantar quando chegar em casa. Esse Baile é contagiante. O nascimento de Jesus já diz tudo. É o respeito, muito respeito. É uma maravilha. Segue a gente: Zabilin-tin-tin-tin-tin-tin-tin..”, celebra Lia, fazendo referência à canção da burrinha Zabilin, personagem emblemática do auto natalino, que ela irá cantar no espetáculo.
A ópera popular tem música ao vivo, regida pelo maestro Rafael Marques. As canções interpretadas por artistas como Silvério Pessoa e a estreante Júlia Souza são acompanhadas por dois coros: um infantil, sob a batuta de Célia Oliveira, e outro adulto, formado por Carlos Filho (ex-The Voice Brasil), Cláudio Rabeca, Elon, Isadora Melo, Ricardo Pessoa, Sarah Leandro, Sue Ramos e Surama Ramos, todos também solistas do espetáculo. Um corpo de baile formado por dez bailarinos, com coreografias de Sandra Rino, completa a brincadeira de um Natal brasileiro, nordestino, pernambucano… e cheio de afeto.