Alguns anos atrás, seria quase que proibido tocar uma música de bregafunk num palco de ciclos festivos no Recife, fosse no carnaval ou mesmo no São João. Inscrever um projeto cultural deste gênero musical em editais era algo ainda mais difícil. E neste mês de novembro, chegou às plataformas digitais um lançamento que ajuda a desbravar um pouco mais desse caminho, contribuindo para trazer sustentabilidade, empoderamento e independência aos artistas no universo da música, com o disco Baile do Marley Vol. 1.
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O álbum, com dez músicas inéditas, faz parte de um projeto mais amplo, de manutenção de um espaço cultural, pelo período de um ano, batizado como A mais de mil: produzindo música com responsabilidade social, o primeiro do bregafunk a ser provado pelo Sistema de Incentivo à Cultura (SIC), Fundação de Cultura Cidade do Recife, Secretaria de Cultura e Prefeitura da Cidade do Recife.
Com produção de Marley no Beat e Tom BC, o lançamento da produtora A Mais de Mil reúne dez faixas autorais, criadas por MCs pernambucanos. A iniciativa conta com a parceria da distribuidora OneRPM, única a manter uma sede no Nordeste.
Estão juntos no álbum 6 MCs: MC Fantaxma, Rayssa Dias, MC Draak, Gui da Tropa, AMun-há e MC CH da Z.O. Ao longos das 10 faixas, os MCs cantam algumas músicas sozinhos e outras entre si. O álbum percorre diversas sonoridades diferentes do bregafunk, como se fosse um baile. O nome do álbum remete às coletâneas de músicas do anos 1990, que traziam os maiores sucessos das pistas de dança.
Baile do Marley Vol. 1 chama a atenção por buscar esse lado autoral, indo na contramão das capelas, que são refrões de MC’s de funk que ganham versões no bregafunk por já fazerem sucesso antes e que correspondem à maior parte dos lançamentos neste meio.
LEGITIMIDADE
Localizada no Alto do Mandu, na Zona Norte do Recife, a produtora A Mais de Mil tem como missão produzir música com responsabilidade social. Dessa maneira, além de lançar o Baile do Marley, foram realizadas ações para impulsionar a carreira destes artistas, muitos deles independentes, sem o apoio de grandes gravadoras ou produtoras. “Por isso, tivemos essa preocupação de ajudar a manter a carreira dessas pessoas, criar os currículos deles, de inscrever em editais de cultura para obter fomento”, ressalta a produtora Tainá Menezes.
Nesse sentido de ampliar o lado de responsabilidade social e dar oportunidade de conhecimento aos artistas, já foram realizadas atividades formativas numa etapa inicial do projeto, levando aos músicos convidados oficinas sobre áudio, técnica vocal, distribuição digital e produção musical, contando com orientação de um time de professores experientes, que inclui Vinicius Aquino, Surama Ramos, Jéssica de Brito e os próprios Marley e Tom.
“Comecei pesquisando a produção do bregafunk para o mestrado em Música e Sociedade, que estava fazendo pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A ideia era fazer uma etnografia. Depois, me envolvi com a produção e com o compromisso de dar mais acesso a esses artistas às estruturas culturais e, até hoje, seguimos em parceria”, recorda Tom BC, que também faz parte de outros projetos musicais já consolidados na capital pernambucana.