A pausa temporária do Angra silencia, mesmo que por um momento, uma das vozes e riffs mais icônicos do heavy-metal brasileiro. Antes do desfecho de (mais) uma era, os fãs pernambucanos serão presenteados com uma noite eletrizante.
Nesta quinta-feira (20), no Clube Internacional do Recife, a partir das 20h, a banda celebra os 20 anos do premiadíssimo Temple of Shadows, em um show cujo repertório também resgata os elementos regionais que fizeram o grupo brasileiro se manter entre os mais populares e influentes da cena metaleira durante 34 anos.
Inspirado na deusa do fogo da mitologia tupiniquim, além de fazer alusão ao termo inglês ‘angry’ (raivoso), o Angra foi criado em 1991 pelo vocalista André Matos e pelos guitarristas André Linhares e Rafael Bittencourt. No entanto, antes de consolidar a formação que gravaria o primeiro álbum, a banda passou por diversas mudanças, como as entradas do baixista Luís Mariutti, do guitarrista Kiko Loureiro e do baterista Marco Antunes.
Depois da inesperada desistência de Antunes, Ricardo Confessori assumiu as baquetas. Enfim, em 1993, foi lançado o disco de estreia Angels Cry, que revolucionou o metal ao incorporar nuances da música erudita e influências sonoras brasileiras.
A releitura de Asa Branca, clássico de Luiz Gonzaga, na introdução de Never Understand é um dos exemplos marcantes da originalidade que levou o Angra ao primeiro escalão do rock mundial. Vinculada à gravadora japonesa JVC, a banda investiu no mercado asiático e alcançou um feito impressionante ocupando o terceiro lugar das paradas no Japão. No Brasil, Angels Cry havia superado as 40 mil cópias vendidas até setembro de 1995.
Em 1996, o Angra consagrou sua maturidade musical em Holy Land, álbum no qual retratou a chegada dos europeus ao Brasil. Enquanto os dois primeiros trabalhos enfatizavam o power metal com elementos eruditos e brasileiros, Fireworks representou uma nova fase marcada por uma sonoridade mais experimental e ancorada no heavy metal dos anos 1980, mantendo, porém, a essência que caracterizou o grupo desde o início.
A turnê de Fireworks tornou-se um campo minado de tensões, culminando na saída de André Matos, Luís Mariutti e Ricardo Confessori. Em 2001, o Angra ressurgiu com uma nova formação, unindo a experiência de Rafael Bittencourt e Kiko Loureiro à energia de Edu Falaschi, Felipe Andreoli e Aquiles Priester.
A separação, que poderia ter sido o fim, tornou-se um renascimento, resultando em Rebirth. O projeto resgatou a força do power metal com faixas como Running Alone, Acid Rain e Nova Era, que se tornaram clássicos instantâneos, e trouxe versos do Maracatu Nação Pernambuco na intro de Unholy Wars.
Temple of Shadows (2005), aclamado e homenageado na turnê atual, é visto por muitos como o ponto de virada do heavy metal brasileiro, com títulos épicos como Spread your Fire, Angels and Demons e The Temple of Hate. O álbum ainda contou com participações de peso, como Kai Hansen (ex-Helloween, Gamma Ray), Sabine Edelsbacher (Edenbridge), Hansi Kursch (Blind Guardian) e, para coroar a obra, ninguém menos que Milton Nascimento.
Após algumas turbulências e inúmeras formações, a estabilidade veio em OMNI, que marca o início da terceira e mais recente era da banda, desde então composta por Fabio Lione (voz), Rafael Bittencourt e Marcelo Barbosa (guitarras), Felipe Andreoli (baixo) e Bruno Valverde (bateria). Independente de despedidas e mudanças, uma certeza permanece: o Angra está na história do heavy-metal mundial.