O manifesto Caranguejos com Cérebros, escrito por Fred Zero Quatro e pelo jornalista Renato L, revolucionou a música brasileira, o Recife e o esteio cultural de todas as gerações de 1992 em diante. Com a vivência de quem esteve no centro desse processo, a dupla apresenta nesta quarta e quinta-feira, sempre às 15h, na Caixa Cultural Recife, a 2ª edição do projeto Mangue em Movimento, uma aula-espetáculo com acesso gratuito que debate os conceitos e caminhos da manifestação que liderou o resgate da cultura popular e folclorizada do ostracismo.
Fred e Renato trazem seus olhares e memórias íntimas em uma experiência sonora e analítica, combinando música e narrativa em um formato de discotecagem. No palco, com dois toca-discos e um mixer, eles intercalam suas canções favoritas com reflexões sobre o contexto histórico do movimento e os princípios que nortearam seus protagonistas. “Achamos que era um bom momento trazer essa história para as novas gerações e revisitá-la”, justifica o jornalista em conversa com o Viver.
Renato L afirma que as influências do manguebeat nunca se restringiram ao campo musical, o que torna essencial trazer uma perspectiva contemporânea. “Acho que ele ainda oferece boas lições sobre como lutar por identidades mais fluidas, capazes de refletir nossa ‘biodiversidade cultural’. Isso me parece especialmente relevante nestes tempos de ascensão do fascismo e do fundamentalismo religioso, com suas visões estreitas e autoritárias”, observa.
Fred Zero Quatro reforça que o movimento continua a dar visibilidade às questões sociais e ambientais, assim como fez há 30 anos. “O manguebeat, ao ressaltar a importância do ecossistema e até recuperar figuras como Josué de Castro, ajudou a trazer à tona discussões sobre a vulnerabilidade das populações periféricas e sobre a preservação ambiental. O mangue, então, passou a ser tratado de forma diferente, tanto no meio acadêmico quanto nas escolas, no meio intelectual e cultural”.
A aula também aborda temas como as semelhanças e divergências do movimento com o Manifesto Regionalista, a Tropicália e o Armorial, suas conexões com a música brasileira do novo milênio, o audiovisual e o design pernambucano, a materialidade do som de Chico Science, além das inspirações em vertentes culturais como o punk e o hip-hop.