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Queijo Minas Artesanal: um patrimônio de ‘gostin mineirin’

ROBSON GOMES
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Diretamente das Minas de ouro e das montanhas gerais, um produto que habita a mesa de muitos brasileiros, nos seus mais diversos tipos, se tornou um patrimônio imaterial da humanidade pela Unesco pelo “jeitin mineirin” de ser feito. Afinal, basta apenas leite cru, coalho, pingo (um fermento lácteo natural) e sal para as pessoas terem acesso a um autêntico e saboroso Queijo Minas Artesanal – ou QMA, como os conterrâneos de Minas Gerais abreviam com carinho.

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Com uma história bicentenária, a coluna Giro foi convidada a conhecer esta iguaria de perto, fazendo a rota de uma das 10 regiões reconhecidas oficialmente pela produção de Queijo Minas Artesanal: o Campo das Vertentes. E a cada fazenda visitada, o clima familiar na história de cada produtor era o tempero extra na feitura desse alimento tão especial para o estado mineiro e, agora, para o mundo também.

Na cidade de Carrancas, nossa primeira parada, fomos apresentados à José Orlando. Com muito orgulho, o produtor do Queijo Bicas da Serra garante que foi naquela cidadezinha de menos de 5 mil habitantes (segundo dados do IBGE, em 2022), que o QMA teria tido seu marco zero. “O ponto forte do Campo dos Vertentes é a região, a pastagem e a tradição. O Queijo Minas Artesanal saiu daqui, da nossa região. Os meus avós não tinham modos industriais de fazer o queijo, algo que só veio acontecer mais tarde. Era, de fato, de maneira artesanal”, conta ele, que já ganhou diversos prêmios pela qualidade de seu produto.

A produção do Queijo Tarôco, em São João del Rei – Foto: Victor Schwaner/Divulgação

Ao apresentar condições climáticas favoráveis e ambiente propício para o processo de maturação, os queijos produzidos na região do Campo das Vertentes são de massa compacta, mas que podem apresentar olhaduras (os famosos furinhos do queijo) diversas. Em outras palavras: é um queijo de média acidez, quase sempre apresentando aroma vegetal, e de menor untuosidade, ou seja, uma textura mais gordurosa ou oleosa.

Ressaltando os aspectos familiares que envolvem a história desse alimento, em São João del Rei, cidade que fica a 183 km da capital Belo Horizonte, o QMA Tarôco – amarelinho por fora, branquinho por dentro e de textura amanteigada – carrega uma trajetória hereditária, algo que a ex-professora Joelma Tarôco aprendeu com sua mãe, Dona Trindade, e repassa hoje em dia os conhecimentos ao seu filho. E ali perto, no município de Coronel Xavier Chaves, vimos a família inteira do seu João Dutra tocando, com dedicação, a produção do Queijo Catauá. O QMA deles, feito com leite de gado Jersey, mais gorduroso, proporciona um sabor singelo e rústico, reminiscente dos queijos produzidos desde o século XVII, é perfeito para degustar com um cafezinho: algo que fizemos in loco.

Nossa Rota do Queijo seguiu para a cidade de Prados, onde visitamos a Fazenda Fortaleza e conhecemos a produção dos queijos Fazfor. Com muito orgulho, o Roberto Carlos Soares, o Robertinho, não só falou sobre os prêmios conquistados com seu produto, como também fez questão de tatuar essas conquistas em seus braços. E mesmo tendo o QMA como carro-chefe, eles também produziam doce de leite, goiabada e rapadura. Todos tão deliciosos quanto.

Em Prados, os queijos Fazfor são produzidos – Foto: Victor Schwaner/Divulgação

Ainda em Prados, vimos o dia ir embora na humilde fazenda do Queijo Matuto. Lá, a comitiva de jornalistas foi recebida com um ótimo “cafezin” feito pelo proprietário Marciel Matuto junto a uma degustação de seus queijos, em que ele produz apenas oito por dia: “Eu não me vendo com o meu queijo, mas meu queijo é vendido com minha essência. Alguns perguntam por que não aumento a produção. É que não quero atender qualquer público. O pessoal menospreza a sabedoria do matuto, mas no fundo, o matuto é um cara inteligentíssimo”.

A trip pelo interior de Minas Gerais teve sua última parada na cidade de Lima Duarte – que não tem nada a ver com o famoso ator de novelas. Foi lá que conhecemos o Queijo Sítio Primavera, produzido pelo casal Dona Elisa e Seu Jorge. O diferencial do QMA deles é ter uma maturação no vinho, o que lhe conferia um sabor marcante. 

Com tantos modos de fazer diferentes, o Queijo Minas Artesanal se revela mais que um produto histórico que justifica o título de patrimônio imaterial conquistado. Sua feitura ao longo dos dois últimos séculos carrega saberes, memórias e a preservação da agricultura familiar, adicionando um ingrediente especial a esse alimento: o orgulho de sua mineiridade.

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