Pedro Cunha
Especial para o Giro
Aos 74 anos, Simone exibe uma elegância única que só o amadurecimento pode proporcionar. A baiana deixou as quadras de basquete para se tornar uma das figuras mais icônicas da música brasileira, ganhando destaque, sobretudo, como voz poderosa no movimento feminista dos anos 1970. Com 51 anos de carreira e dona de uma mente inquieta, Simone aporta no Teatro Guararapes, neste sábado (17), com a turnê Tô Voltando, em celebração às cinco décadas na música. Reunir seus grandes sucessos neste show, diz ela, não foi tarefa simples.
>> Confira a coluna Giro desta sexta-feira, 16/08/2024
“Estou cantando, viva, com saúde e feliz. Só tenho motivos para sorrir e agradecer. Como artista e como mulher, me sinto uma vencedora. Amo o que faço, e essa paixão, esse tesão pelo que faço, continuam tão intensos como sempre. Ao longo da minha trajetória, tive muito mais acertos do que erros, e nunca tive medo de me posicionar”, conta Simone em entrevista ao Giro, ao refletir sobre os 50 anos de carreira. A artista, aliás, nem cogita a ideia de aposentadoria: “Não me imagino longe dos palcos, sem a música”.
Mesmo com a intensidade de shows e ensaios, a cantora não descuida da saúde, seguindo uma rotina de cuidados que vão além do palco. “Eu colaboro com a vida. Sempre fui uma pessoa ativa. Como bem, faço exercícios, ginástica, fisioterapia e terapia. Cuido da minha mente, do meu corpo e da minha voz. Ajudo bastante o que Deus me deu,” revela.
Nova turnê
A turnê Tô Voltando tem um significado profundo para Simone, simbolizando um renascimento em muitos aspectos. Após sete anos sem lançar novos trabalhos, ela retornou em 2022 com o álbum Da Gente. No entanto, 2023 trouxe o marco de 50 anos de carreira, o que acabou restringindo o tempo para promover este álbum. Ela reflete sobre o contexto difícil de onde todos emergiram, com “o mundo e o Brasil atravessando um período obscuro”. Para ela, Tô Voltando é mais do que uma série de shows; é uma celebração do retorno à vida, à música, ao convívio social e aos palcos. É a vitória sobre uma pandemia e a renovada esperança trazida pela mudança política, que lhe permite, finalmente, enxergar novamente a beleza e a luz ao seu redor.
O show deste sábado tem as participações de Joyce Alane, Rogeria Dera e Isabela Moraes. Rogeria e Isabela colaboraram previamente com Simone no álbum Da Gente, nas faixas Escancarada e Você Distante, respectivamente. “Elas foram convidadas e aceitaram. É uma verdadeira celebração. Elas vão escolher uma música do repertório, o que é perfeito para marcar meus 50 anos de carreira. Inserir essas artistas nessa festa é uma honra e torna tudo ainda mais especial.” A apresentação de Simone no Teatro Guararapes acontece 14 anos depois de gravar o DVD Em Boa Companhia, no mesmo palco.
No setlist, destacam-se clássicos como O Que Será (À Flor da Terra), de Chico Buarque; Jura Secreta, de Sueli Costa e Abel Silva; Começar de Novo, de Ivan Lins e Vitor Martins; Encontros e Despedidas, de Milton Nascimento e Fernando Brant; De Frente pro Crime, de João Bosco e Aldir Blanc, e, é claro, Tô Voltando, de Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro. O show também traz uma novidade: a primeira interpretação de Simone para Divina Comédia Humana, uma composição de Belchior que foi escrita para ela lançar no álbum Face a Face, de 1977, mas que, na época, acabou não sendo incluída no disco.
Simone já antecipa novidades para o encerramento da turnê comemorativa. “Estou desenvolvendo um projeto colaborativo com compositores e cantores incríveis! A ideia é começar a lançar as novas músicas ainda neste segundo semestre. Além disso, estou selecionando o repertório para meu próximo trabalho, que será lançado no ano que vem”.
Paixão pelo Rio e por novelas
A cantora tem algumas paixões na vida, e duas delas são o Rio de Janeiro e as novelas. Ela conta que escolheu a cidade carioca para viver, apesar de ter nascido em Salvador. “Nenhuma cidade que conheço no mundo é tão bonita quanto esta. Saí de Salvador, meu berço que amo muito, passei um tempo em São Paulo, mas foi no Rio que decidi fincar minhas raízes. Precisava de um lugar assim, com praias e uma beleza natural incomparável.”
Com quase 50 canções em trilhas de novelas, a artista também revela seu amor por acompanhar os folhetins. “Eu adoro novelas! Momentos brilhantes da cultura brasileira estão eternizados nessa forma de arte, e me sinto muito honrada por fazer parte delas com minhas canções. É algo que toca muitas pessoas,” diz ela, mencionando algumas músicas especiais que marcaram essas tramas. “Difícil escolher uma, mas hoje eu destaco Jura Secreta, de Sueli Costa e Abel Silva, minha primeira música em novela. Apareceu em O Profeta (1977) e depois em Memórias de Amor (1979). O significado é enorme, abriu um caminho para tudo”.
Simone tem uma relação especial com o Recife, cidade que sempre a acolheu de braços abertos. Ao longo de sua carreira, ela teve a oportunidade de se apresentar diversas vezes na capital pernambucana. “Recife é uma cidade rica em cultura e história, onde as tradições se misturam com a modernidade, criando um ambiente único e inspirador. Essa conexão com o Recife vai além dos palcos, se torna parte importante da minha trajetória e identidade como artista”, conclui, para a sorte dos fãs.