O pernambucano Ayrton Montarroyos apresenta seu novo álbum batizado por Hermínio Bello de Carvalho: A Lira do Povo que chega a todas as plataformas digitais nesta sexta-feira (7) pela gravadora Kuarup com participação especial de Alaíde Costa nas faixas A Estrada do Sertão e Gas Neon. Montarroyos explora a cultura do homem brasileiro, sua relação com o sertão, a cidade e o mar. O folclore, a oralidade e as histórias de pescador são elementos importantes de que o artista, juntamente aos três músicos com quem divide o palco (Arquétipo Rafa – percussão, baixo e direção musical, Ariane Rodrigues – flautas e Rodrigo Campos – violões) e o coro formado por Rhaissa Bittar, Mari Tavares e Tatiana Burg, faz uso.
Em A Lira do Povo o protagonista não é apenas o sujeito, mas o objeto dessa história. Os acontecimentos em sua vida são exagerados e levados ao extremo, tornando-se também figuras centrais. Um pássaro-observador acompanha, como figurante metafórico, o desenvolvimento desse personagem, representando o sentimento brasileiro e suas modificações, de acordo com a realidade que se apresenta. Ao final da terceira das três suítes que compõem a apresentação, o pássaro é enxotado pelo ritmo acelerado da vida urbana, com seu tempo apressado e suas distrações.
Ayrton busca explorar os significados que os objetos e as palavras possuem a partir da convenção humana, ressignificando verdades e seus processos. Além de se debruçar na tentativa de despertar a consciência do público sobre o mundo que lhe forma, criando seus próprios mitos. A “lira”, tanto do produto cultural do povo, quanto a palavra usada para referir-se ao instrumento musical que simboliza a criação e a música, permeia o disco para além do título.
Sobre a obra, o artista comenta: “Este álbum não é um retrato do Brasil. Também não é um recorte da memória afetiva do povo brasileiro ou a projeção de um país ideal ou não”.
A Lira do Povo nasce da vontade de fazer sentir o personagem que somos nós, utilizando dos recursos estéticos que dispomos: som, luz, o teatro, cheiros e sentidos. Sendo a canção popular brasileira, de João Pernambuco a Kiko Dinucci, o principal material utilizado. Não poderia ser outra música, de outro país ou povo, pois queremos evocar uma história de um homem brasileiro, que pode acidentalmente ser real, mas que por nós, artistas, foi inventado. Inventado como qualquer folclore, qualquer mito.
O que era pra ser uma apresentação de músicas interioranas, criou asas e transformou-se num apanhado de signos, numa festa, numa dança do povo, num suspiro, num grito também. Foi sabendo dessas coisas que o meu amigo Hermínio Bello de Carvalho, compositor dos grandes, batizou essa apresentação e tudo o que nasce dela, com título semelhante a um que já havia usado em seus trabalhos, que são sempre grandes estudos sobre o Brasil. O que me fez gostar ainda mais do título.
“A ideia de viver uma história no disco através do trígono “sertão > mar > cidade” não me sai da cabeça há muito tempo. Uma frase de João Cabral de Mello Neto me atiçou lá atrás: “[…] ambidestro do seco e do úmido, como em geral os recifenses”. Essa imagem do povo que teve que sair do sertão para viver no litoral, fundando uma capital que tem tamanho de metrópole e jeito de interior me tomou desde então. Nos meus escritos, há quase cinco anos, venho, sem saber, elaborando as direções e caminhos para a condução deste espetáculo, elegendo canções e parceiros possíveis de dividir esse sonho que agora se torna mais que real: irreal na sua plenitude”, comenta Ayrton Montarroyos.