ROBSON GOMES
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Moderno, irreverente, inquieto, sedutor. São muitos os epítetos para definir um dos artistas mais genuínos que a música brasileira já produziu. Estamos falando de Jards Anet da Silva, ou Jards Macalé para aqueles que o apreciam artisticamente. Aos 81 anos de vida, este músico e cantautor carioca sobe ao palco do Teatro Boa Vista, neste sábado (20), junto com Sergio Krakowski para apresentar o show Mascarada, criado pelos dois em tributo ao grande sambista Zé Kéti.
“Essa homenagem começou com uma proposta do [Sergio] Krakowski para gravar um disco sobre Zé Kéti. Ele tem um trio lá em Nova York e me convidou para ir à Paris participar deste trabalho, trazendo uma visão contemporânea ao samba do Zé. Juntos, elaboramos um samba diferente, porque o samba já é uma injeção, mas é uma injeção dentro da injeção”, explica Jards em conversa com a coluna Giro. O resultado desta proposta já pode ser ouvido no álbum que leva o mesmo nome do espetáculo, lançado em janeiro nas plataformas digitais.
Apreciar este veterano artista ainda ativo nos palcos é prestigiar todas as grandes contribuições que ele trouxe para a MPB. Entre os anos 1960 e 1970, o carioca foi arranjador e músico dos baianos Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Bethânia. Na sequência, apresentou-se ao lado de nomes como Raul Seixas, Paulinho da Viola e Chico Buarque. E como compositor, canções como Revendo Amigos, Mal Secreto e Farinha do Desprezo (garantidas no setlist de logo mais) foram sucessos nas vozes de artistas distintos e de várias épocas como Gal, Nara Leão, Elizeth Cardoso, Adriana Calcanhotto, Frejat, Luiz Melodia, Marcelo Falcão (O Rappa), Thaís Gulin e Bethânia, entre outros.
Por isso, a obra de Jards Macalé tem atravessado gerações: “Eu vejo isso do palco. Na plateia, tem um grande público jovem acompanhando meu trabalho. Acho isso uma maravilha, pois é um reflexo de seguir trabalhando todos esses anos. Quando vejo esse público diverso, me emociono”.
O carioca de voz rouca e inconfundível também destacou com carinho a importância da saudosa Gal Costa como a grande intérprete de suas obras, como a icônica Vapor Barato. “Ela foi fundamental para minhas composições, uma das vozes mais fortes. Não só divulgou essas canções com a potência dela, como também as renovou. Deu uma interpretação toda especial e pessoal. E faz muita falta hoje em dia”, ressalta.
Feliz por se apresentar na capital pernambucana, o músico se aproxima do estado através de suas raízes. “Falar de Pernambuco é lembrar do meu pai, que é de Olinda. Então, gostaria muito de dar um rolê por lá, mas infelizmente, não será possível”, lamenta ele, por conta da sua atribulada agenda de compromissos.
Mas é justamente essa inquietude artística que faz de Jards Macalé um patrimônio vivo da música popular brasileira a ser reverenciado. “É energizante! É uma força que vem de dentro, que me dá vontade de seguir fazendo as coisas, de continuar compondo, tocando, andando com meus companheiros, amigos e parceiros. Esse último disco que eu fiz, por exemplo, fala sobre essa energia nova. Tudo isso é uma força que vem do meu interior. Eu não sei explicar. Só sei que existe e que faz com que eu faça as coisas”, arremata o inigualável músico.
SERVIÇO
Show Mascarada – com Jards Macalé & Sergio Krakowski
Neste sábado (20), às 20h, no Teatro Boa Vista.
Ingressos a partir de R$90, à venda online.