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Gilberto Braga: escravo da arte de emocionar tem vida e obra celebrada em livro

ROBSON GOMES
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Para quem escreveu cerca de trinta obras audiovisuais para a TV Globo entre episódios de Caso Especial, novelas para todos os horários e minisséries, ter cerca de 350 páginas para resumir sua vida e obra em um livro parece pouco. Principalmente, quando nos referimos a um dos nomes que revolucionou a teledramaturgia brasileira. Assim foi Gilberto Braga, um dos grandes autores da emissora carioca, que faleceu aos 75 anos, em outubro de 2021, e agora está imortalizado na obra biográfica Gilberto Braga, o Balzac da Globo (Editora Intrínseca, 2024), escrita pelos jornalistas Artur Xexéo e Mauricio Stycer. 

A concepção do livro por si só já chama a atenção. Por dentro do projeto desde o começo, Gilberto começou a dar entrevistas para Xexéo em 2019. O processo seguiu até meados de junho de 2021, quando o jornalista veio a falecer. Três semanas depois, o autor de novelas contatou Mauricio Stycer para dar prosseguimento e finalização à publicação. E exatos quatro meses após a partida do primeiro autor, o biografado também veio a óbito.

Mas para Stycer, foi um prazer poder mergulhar no universo de um Gilberto Braga que poucos conheciam até então. “É uma boa oportunidade para o leitor conhecê-lo para além das novelas. Nós abordamos a vida pessoal dele com o cuidado de não ser invasivo. Para mim também foi surpreendente porque conhecia muito pouco, apenas as coisas mais clichês que se falavam sobre o Gilberto antes de ser autor de novelas. E ao fazer a pesquisa para o livro e lendo a pesquisa feita do Xexéo descobri muita coisa”, conta o autor por telefone, em entrevista ao Diario.

Maurício Stycer e Artur Xexéo escreveram o livro sobre Gilberto Braga – Foto: Paulo Severo/Divulgação

Como se fosse uma novela, a publicação divide-se em duas fases: na primeira, somos apresentados ao Gilberto Tumscitz. Aquele que nasceu no bairro de Vila Isabel, no Rio de Janeiro. Filho de um escrivão de polícia e de uma dona de casa, que estudou em colégios tradicionais e cursou a faculdade de Letras. Que trabalhou dando aulas na Aliança Francesa e, posteriormente, como crítico de teatro e cinema do jornal O Globo. Tudo isso seria banal não fosse as mais diversas tragédias familiares que aconteceram com ele, como o assassinato da avó paterna pelo padrasto de seu pai e a história trágica da mãe, que de certa forma ele retratou na novela Dancin’ Days (1978), um de seus primeiros grandes sucessos que parou o país.

Na segunda fase, aí sim, conhecemos o Gilberto Braga de maneira aprofundada, com seus amores e dissabores de ser um novelista, regado a muitos segredos de bastidores. E daí vem o apelido que está no subtítulo desta biografia, o Balzac da Globo, ou seja, uma comparação justificada pelo fato de fazer do dinheiro, da ambição e da vingança os temas centrais de suas obras. Pois por muitas ocasiões, Gilberto deixava claro que escrevia novelas apenas para ganhar bem e pagar suas contas.

“Quando Gilberto começa a escrever para a televisão, ele não tinha a menor noção do que significava aquilo. Ele estava realmente precisando de grana. Estava infeliz com o trabalho dele como crítico de teatro e professor de francês. Então, ele nunca mentiu quando revelou que trabalhava por dinheiro. Mas quando ele começa a fazer sucesso, como em A Escrava Isaura (1976), e ele vê que realmente o país estava acompanhando a novela, ele começa a olhar o ofício com outros olhos”, justifica Stycer.

Bastante intelectual, tendo a chance de aprender com os melhores da época como Janete Clair e Lauro César Muniz, Gilberto Braga conseguiu imprimir sua personalidade em cada folhetim. Para quem ama o gênero televisivo, é fácil identificar uma “novela do Gilberto”, seja pelas características fortes de seus personagens ou pelo texto afiado e crítico. E é nesse contexto que nasceu sua obra-prima, considerada uma das principais novelas até hoje e consolidou seu nome no rol dos grandes novelistas: Vale Tudo, de 1988, estrelada por Regina Duarte, Gloria Pires e Antonio Fagundes. A trama de 203 capítulos, inclusive, foi escrita junto com Leonor Bassères e o pernambucano Aguinaldo Silva, com quem teve uma relação cordial desde sempre, assegura o autor da biografia.

Em meio a sucessos como a icônica Celebridade (2003) e fracassos, Gilberto Braga chegou ao fim da vida sem poder se reerguer do fiasco da novela das nove, Babilônia (2015), a última produção que teve ele como titular. No livro, ficamos sabendo que ele idealizou e escreveu duas novelas (Intolerância e Feira das Vaidades) e uma minissérie, mas todos estes projetos foram engavetados pela TV Globo. Mesmo assim, a história de Gilberto Braga merece ser celebrada para todo sempre.

No fim das contas, será que a vida desse novelista daria uma novela? Mauricio Stycer garante que sim. “O livro deixa isso muito claro. Daria uma novela, uma minissérie, um filme, várias coisas! Tem muita história, vários recortes possíveis. Eu estou vendendo aqui o peixe para futuros roteiristas”, brinca o jornalista, abrindo brecha para, quem sabe, outros Gilbertos Bragas possam surgir no audiovisual brasileiro. 

Vale Tudo vale remake?

Considerada a novela carro-chefe de Gilberto Braga e uma das principais obras da teledramaturgia brasileira, Vale Tudo está sendo invocada pela TV Globo para voltar às telas numa nova versão em 2025. Ou seja, é mais um remake a caminho, a exemplo do que a emissora carioca anda fazendo na faixa das nove com Pantanal (2022) e a atual Renascer. Ainda não anunciado oficialmente pelo canal, já é certo que Manuela Dias – autora da série Justiça (2016) e da novela Amor de Mãe (2019) – está a frente da atualização do texto.

Mauricio Stycer comenta que remexer na “obra prima de Gilberto” é um movimento natural e industrial. E não deve ser visto como algo que vai macular a novela original: “O ato da Globo refazer novelas não é um negócio extraordinário e raro. Acho que faz sentido você pensar que determinados públicos que não conhecem a obra possam ter acesso a uma versão nova. Ao mesmo tempo, não deixa de ser uma aposta. Pois assim como as novelas inéditas, você nunca sabe se um remake vai dar certo ou não. É esperar para ver o que vai ser”.

Segundo o colunista Leonardo Ferreira, do jornal Extra, o processo de escalação do elenco já começou nos bastidores do canal. Taís Araújo é até agora o nome mais cotado para o papel de Raquel, vivida por Regina Duarte em 1988. Já Cauã Reymond foi cogitado para interpretar o mau-caráter César Ribeiro, personagem de Carlos Alberto Riccelli. A jovem Bella Campos, a Muda de Pantanal, faz teste para Maria de Fátima, que marcou a carreira de Gloria Pires.

Para o emblemático papel de Odete Roitman, imortalizada por Beatriz Segall, a Globo tem estudado duas possibilidades: Débora Bloch e Fernanda Torres. Além da atualização do texto, também está confirmado que o remake de Vale Tudo terá menos capítulos que a obra original. A ideia é que a novela entre no ar logo após o fim da inédita Mania de Você, de João Emanuel Carneiro, que substitui Renascer a partir de setembro.

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