ROBSON GOMES
[email protected]
Em tempos em que tudo é plástico e efêmero, onde só o belo importa, lidar com os próprios monstros e escancará-los hoje em dia é uma prova de coragem. Mas não para esta atriz de inteligência aguçada e elegância ímpar, que decidiu explorar casos vividos por ela – mas que são universais – da maneira mais autêntica possível. Assim é o espetáculo O Pior de Mim, escrito e protagonizado por Maitê Proença, que desembarca no Recife nestes sábado (9) e domingo (10), no Teatro do Parque.
A peça, que nasceu ainda on-line, em meio à pandemia, tornou-se um livro homônimo e agora ganhou os palcos para uma temporada presencial. Mas, apresentar algo autoral não é novidade para Maitê. “Já tem 20 anos que escrevo minhas próprias peças. Elas têm feito sucesso de público e já venceram diversos prêmios. Isso nasceu da necessidade de dar voz às questões que me mobilizam. O Pior de Mim é uma contação de histórias que fazem refletir porque mexem nos lugares sobre os quais a gente mente”, explica a atriz paulista ao Diario.
O espetáculo dirigido por Rodrigo Portella navega por assuntos espinhosos como machismo, preconceito e quem seria esta nova mulher de 60, lugar de fala da veterana. E na visão da artista, o público está preparado para ter essas conversas sem pudores. “Toco nessas questões através das histórias. Não é um monte de regras chatas com minhas supostas verdades. O público chega às suas próprias conclusões. Como nada é imposto, o espectador vai lá sem resistências”, garante.
O resultado desta conversa franca entre artista e plateia é enriquecedor para Proença: “Depois do espetáculo, as pessoas me contam histórias muito íntimas que reapareceram enquanto viam a peça. Coisas proibidas que deixam de ser proibidas. E todo mundo fica exultante de ter ido lá sem dor. A peça dá coragem, humor e vigor para quem assiste”.
A entrega de Maitê
Quando subir ao palco do Teatro do Parque neste fim de semana, a atriz estará pronta para esse processo de troca com o público em formato de espetáculo, ao longo de uma hora de duração. Ela ainda entrega o seu ritual antes de as cortinas se abrirem. “Antigamente eu dançava e cantava, agora faço mais rapidamente umas respirações de kundalini [tipo de ioga] e uma posturas físicas que me dão flexibilidade, mas também força e poder”, afirma.
Confiante nesse poder de transformação que só o ao vivo de uma peça teatral pode dar, Maitê Proença se sente viva para entregar mais que “o pior dela” à plateia. “A repetição do teatro ensina sempre. A peça nunca fica pronta, cada dia aparece alguma coisa que nunca tinha sido pensada antes. E eu sou uma buscadora. Vou me transformando dia a dia, ano a ano. No teatro, me entrego a cada personagem. Cada vez eu chego mais fundo neles, porque eu também, dentro de mim, tenho mais coragem para mergulhar”, finaliza.
SERVIÇO
O Pior de Mim – com Maitê Proença
Sábado (9), às 20h, e domingo (10), às 19h, no Teatro do Parque (Rua do Hospício, 81, Boa Vista – Recife).
Ingressos: R$120 (inteira), à venda online e no local. Meia-entrada esgotada para as duas sessões.